segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Yoga na Índia

Combate Racismo Ambiental » A língua que somos, por José Ribamar Bessa Freire

via Combate ao Racismo Ambiental


Paca, tatu, cotia sim. Esses e outros bichos desconhecidos na Europa foram encontrados no litoral brasileiro e na Amazônia pelos portugueses, que tomaram emprestado das línguas indígenas os nomes de animais, peixes, plantas, práticas culinárias, tecnologias tradicionais e formas de fazer as coisas.
Mas, por outro lado, os portugas trouxeram um mundo de coisas novas que não existiam aqui: enxada, machado de ferro, papel, catecismo, bíblia, pecado, cupidez, padre, soldado, pólvora, canhão e até animais como vaca, cavalo, cachorro, galinha. Com as coisas, trouxeram os nomes das coisas.
A língua portuguesa e as línguas indígenas, através de seus falantes, ficaram se esfregando e se roçando uma nas outras, num intenso troca-troca. Esse atrito, que a sociolinguística chama de línguas em contato, configurou o português regional e marcou os idiomas indígenas, um dos quais serviu de base para o Nheengatu, a língua que durante séculos organizou a comunicação entre todos.
Essas questões foram discutidas segunda-feira passada na Universidade Federal do Amazonas numa palestra sobre a História das Línguas na Amazônia organizada pelo Programa de Pós-Graduação em História e ministrada por este locutor que vos fala.
Trata-se da história do casamento do pirarucu com o bacalhau. Um, de cabeça chata e ossificada, mora nas águas quentes dos rios da Amazônia. O outro vive na Europa, nas águas frias do Oceano Atlântico, mas ninguém viu sua cabeça, apenas um velho de Gafanha da Nazaré, no Aveiro, que é mudo e não pode descrevê-la. Não foi um casamento fácil porque o casal, que morava na casa de Noca, manteve relações assimétricas, conflitivas, tensas, de dominação e exploração.
É como no fado tropical de Chico Buarque: avencas na várzea, alecrins no igapó, pupunha no Alentejo, tucumã no vale do Mondego, o rio Amazonas que corre trás-os-montes e numa pororoca deságua no Tejo. Nós somos os filhos dessa união. embora haja quem queira negar tal filiação, fruto de empréstimos de lá pra cá e daqui pra lá.
Os empréstimos
O Nheengatu, “uma das línguas de maior importância histórica no Brasil”, foi a língua majoritária da Amazônia durante todo o período colonial, estendendo sua hegemonia até a primeira metade do século XIX. Manteve contato permanente, através de seus falantes, com outras línguas indígenas e com o português, o que deixou marcas e influências mútuas bastante significativas. Numa amostra registrada por Aryon Rodrigues, 46% dos nomes populares de peixes e 35% dos nomes de aves na língua portuguesa falada no Brasil são oriundos do Tupinambá.
O Nheengatu, que também não ficou congelado, fez vários tipos de empréstimos. Um deles foi substituir palavras próprias por seu correspondente em português, como no caso de ipéca que cedeu lugar a pato. Outro foi fazer adaptações fonéticas de termos que designavam conceitos, funções e utensílios novos: cavalo em português deu  cauaru em nheengatu; cruz virou curusu; soldado, surára; calça ou ceroula, cerura; porco, purucu; livro libru ou ribru; papel, papéra, e amigo ou camarada deu camarára.
Mas não parou aí. O Nheengatu ampliou ainda o valor semântico de palavras do seu léxico para dar conta da nova realidade colonial, nomeando com nomes tupis certos elementos desconhecidos dos índios, mas com os quais é possível estabelecer analogias: assim boi e vaca foram denominados de tapir (anta); cachorro passou a ser iauára (onça); vinho foi chamado decauín e tesoura de piranha. Mas se boi e vaca são denominados de tapir, como chamar, então, a anta? Ela virou tapireté assim como a onça ficou iauareté, acrescentando a partícula eté, que significa verdadeiro, legítimo, genuíno.
Durante dois séculos e meio, índios, mestiços, portugueses e escravos africanos trocaram experiências e bens nessa língua que se firmou como língua supraétnica, difundida amplamente pelos missionários por meio da catequese. Denominada de Língua Geral Amazônica pelos linguistas para diferenciá-la da Língua Geral Paulista, ela é hoje bastante usada no Rio Negro. Graças a um projeto do vereador indígena Kamico Baniwa, foi declarada,em 2002, língua cooficial em São Gabriel da Cachoeira (AM), um município com área maior que Portugal, onde são faladas 22 línguas.
Identidade
Dados sobre a história das línguas na Amazônia estão dispersos em arquivos nacionais e europeus. No Arquivo Histórico do Exército, no Rio de Janeiro, no fundo intitulado Guerra do Paraguai, existe troca de correspondência com o presidente da Província do Amazonas, em 1865, sobre o envio de recrutas para a Corte, além de relatórios de interrogatórios feitos a prisioneiros paraguaios e mapas do 54º Batalhão de Voluntários da Pátria que possuía uma Companhia de Índios.
A documentação da Guerra do Paraguai registra notícias de ‘voluntários’ do Amazonas, monolíngues em Nheengatu, cujo recrutamento criou uma situação no mínimo insólita, com consequências sobre as marcas identitárias étnicas e nacionais: muitos soldados amazonenses, pertencentes ao 5º Batalhão de Infantaria, que sequer podiam entender as ordens em português do seu comandante, morreram nos campos de batalha do Paraguai, como ‘voluntários da Pátria’, falando uma língua, compreendida pelo inimigo, mas desconhecida em sua própria trincheira.
Do outro lado, havia situação similar com soldados paraguaios, monolíngues em guarani criollo, alguns dos quais foram feitos prisioneiros de guerra, e só puderam ser submetidos a interrogatório com ajuda de soldados amazonenses, bilíngues em Língua Geral-Português, que funcionaram como intérpretes e tradutores devido à proximidade das duas línguas.
A partir da Guerra do Paraguai, o Nheengatu começa a perder falantes, cessa a sua hegemonia no Amazonas, fica limitado ao Rio Negro e a bolsões no Alto Solimões. Outras línguas indígenas desapareceram sem deixar qualquer vestígio e quando uma língua que não foi documentada deixa de ser falada, é como se nunca tivesse existido. As cidades da Amazônia, entre elas Manaus e Belém, foram cemitérios de línguas indígenas, lá estão sepultados os últimos falantes de várias línguas extintas.
Todos nós devemos nos preocupar com as línguas que estão morrendo, da mesma forma que nos afligimos quando desaparece uma espécie animal ou vegetal, porque “isso reduz a diversidade do nosso planeta”. A diversidade cultural, intelectual e linguística é tão vital para a sobrevivência da espécie humana quanto a diversidade biológica - escreve o linguista irlandês David Crystal no seu livro “A revolução da linguagem”, onde apresenta algumas estratégias para revitalizar línguas em perigo de extinção.
Uma delas é justamente discutir o assunto nas escolas e na mídia, traduzindo a produção da academia para uma linguagem acessível ao grande público, com o objetivo de criar uma consciência planetária sobre a importância de preservar a glotodiversidade.
A história da América - escreve Bartomeu Meliá - é também a história de suas línguas, que temos de lamentar quando já mortas, que temos de visitar e cuidar quando doentes, que podemos celebrar com alegres cantos de vida quando faladas. 
O processo de deslocamento linguístico na Amazônia mexeu com a nossa identidade e memória. Esquecemos que esquecemos o Nheengatu, mas o conhecimento dessa trajetória é essencial, porque como nos ensina Braudel, “a condição de ser é ter sido”. É isso: nós somos as línguas que fomos.
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P.S. 1 – A trajetória do Nheengatu é descrita no livro de minha autoria Rio Babel – a história das línguas na Amazônia  (2011, 2a. edição) e no artigo Da Fala Boa ao Português na Amazônia Brasileira, publicado na revistaAmeríndia da Universidade de Paris VII (1983) e, posteriormente, na revista Amazônia em Cadernos (2000) do Museu Amazônico. Agora, o artigo foi traduzido ao Nheengatu e publicado nesta língua pela Editora da Universidade do Amazonas, no livro monolíngue organizado por Gilvan Muller e Mauricio Adu Schwade intitulado Y?gatu Resewa(2012).
P.S. 2 – Em Manaus, participei da banca examinadora da dissertação “Soldados da Borracha: das vivências do passado às lutas contemporâneas” do mestrando Frederico Alexandre de Oliveira Lima, ao lado de Luiz Balkar Sá Peixoto Pinheiro (orientador) e Patrícia Rodrigues da Silva.
Foto de Sérgio Freire de Souza

domingo, 11 de agosto de 2013

Felicidade Cibernética

Fale sobre sua mãe.. • Não tenho muito o que falar.. • É claro que tem, deveria ter de qualquer maneira, é sua mãe... • Não, não tenho...alias, eu me lembro bem pouco dela... • Que quer dizer, você não é tão velho assim...e deve ter passado muito tempo em casa...vejo seu registro, que você morou na casa dos seus pais até ir à faculdade. • Sim, é isso mesmo...posso pegar mais café? • É claro...sinta-se a vontade. • Voltando a coisa, eu realmente estou sendo sincero...meus país era bons e tudo mais, mas eu não me lembro muito deles...minha infância foi tranquila, mas de fato eles foram um pouco ausentes... • Umm...ausentes, trabalhavam muito? • Também, eu acho...mas eles eram ausente de si mesmo acho.. • Você tem algo de filosofo...porque veio para a área de ciências eletrônicas? • Em parte, porque estive lidando com isso desde muito cedo...fui muito estimulado a aprender com as maquinas, e de fato elas são minhas amigas por assim dizer... • É, os vídeo games sempre são um incentivo.. • Não foi só isso...eu tinha uma babá eletrônica. • Aqueles geringonças monstruosas que faziam café e panquecas? Sério? • É desta mesma..modelo de segunda geração. • Mas elas não foram proibidas? • Eles diziam isso, mas elas não foram proibidas, as pessoas é que foram proibidas de deixar suas crianças sob os cuidados de um....acho que foram alguns acidentes da terceira geração, parece que elas tinham uns maus hábitos que acabaram matando algumas crianças.. • Mas mesmo assim seus pais deixaram você com uma coisa dessas... • Ela não era uma coisa..era uma boa pessoa, alias a melhor de todas as pessoas que conheci.. • Ummm...maquina como pessoa? Acho que estamos caminhando para um lugar estranho, mas maquinas não são pessoas...são apenas coisas. • É um ponto de vista, mas acho que... • Sim, prossiga..... • Não estou certo de que deveria seguir nesta linha de raciocínio, estamos em uma entrevista de emprego, e eu gostaria muito de trabalhar nessa empresa.. • Entendo...mas acho que sua opinião sobre a relação homens e maquinas faz parte disso, não? • Eu tenho lido sobre a política da empresa, e parece que há toda uma definição interna de maquina e pessoas... • Sim, claro. Estamos eu um pais de normas e leis...não vivemos a sombra e a margem das coisas...por isso, me parece coerente saber sua opinião sobre isso..Voce ia comentando sobre pessoas e maquinas...siga! • Ok! Eu só estava ia dizer que existe empresas que tratam pessoas como maquinas. • Não, nos tratamos pessoas como pessoas... • Mas tem horários? • Claro, funcionários precisam exercer suas funções...como uma grande família, todos precisam cumprir suas funções...se alguém falha, a família não funciona.. • Funcionar....eu sempre me perguntei sobre o significado profundo dessa palavra..funcionar, função, fun.... • Sim, claro para isso contratamos FUNCIONáRIOS, porque temos atividades a serem executadas e funções a seres cumpridas... • Sua definição de família é bem interessante, família como organismo funcionalizante.. • Eu não disse isso... • Você já pensou sobre isso? • Eh..não, mas acho que a família.. • Deixa eu dizer uma coisa sobre família...quando eu tinha 10 anos de idade, minha baba eletrônica parou de funcionar...eu fiquei dois eu três dias se cuidados...então, quando percebi que não sabia prepara a comida...eu desmontei a baba e troquei o processador... • Sim ela não exercia mais a função... • Mas eu a fiz voltar a suas funções...quando ela ligou novamente, ela estava limpa, totalmente vazia..então eu a reprogramei para voltar a ser o que era.. • Com 10? Muito bom... • Não, ele nunca voltou a ser a mesma...eu usei um processador do vídeo-game....são apenas peças de fato. Mas quando apareceram as opções de auto programação eu a programei com a diretriz de que deveria me ensinar e viver e a ser o melhor garoto do mundo... • Muito esperto...poderia te-la programado para fazer suas vontades... • Não, ela originalmente já tinha essa programação...e por isso ela pifou, nada pode satisfazer todas as vontades de um menino... • Me parece bem sensato...mas para um menino de 10 anos? • É...eu também acho! Mas digamos que aos 10 eu já tinha vivido bastante para saber as conseqüências de nossos desejos infantis... • Por então... • a babá não fez exatamente o que eu queria, bem ela fez....mas de uma forma diferente.. • me parece tão improvável que uma maquina possa realmente saber como educar uma criança para que se torne um adulto normal.. • ah sim, isso não é mesmo possível...mas a babá também concluiu isso, e para me educar ela decidiu que o único caminho era torna-se uma boa pessoa de forma que pudesse me ensinar a ser uma pessoa descente ....como eu programei para executar a função de me tornar o melhor garoto do mundo, ela entender garoto como protótipo de pessoa....se eu tivesse pedido, tornar o homem mais eficiente e ou o mais rico ela teria tomado outro caminho, mas ela leu garoto como protótipo de pessoa...e para isso teve que aprender a o que é ser pessoa, para me ensinar alguma coisa. • Bem, vejo que ela conseguiu. No seu currículo tem muita coisa boa que você fez, além de ser bom estudante, ações humanitárias e serviços a sociedade... • É...eu gostava de ajudar, e sempre tinha boas moças nessas atividades... • Impressionante...mas e sua babá? Você ainda à tem? Poderíamos experimentar sua programação para outras máquinas....seria uma revolução! • Acho que não... • Onde ela está? Bem...ela se aposentou, e esta buscando a felicidade...depois que fui a universidade, ela se casou com um cara...separou-se, viajou para a índia, casou-se novamente, adotou um cão....ela me escreve todo fim de ano reclamando de que é realmente difícil achar a felicidade.... • Mas você não havia programado para te tornar o melhor garoto do mundo? • Sim, mas ela concluiu que para isso ela deveria ter uma premissa superior, que é a busca da felicidade....buscar a felicidade é a melhor forma de ensinar os indivíduos a serem boas pessoas, de fazer pessoas transcenderem suas funções objetivas e acharem um sentido de ser...na verdade, um tipo especifico e simples de felicidade, não a felicidade estúpida do ter e do poder, mas a felicidade do ser.. • Isso é bonito....mas me fale sobre sua mãe • Bem, a babá matou meus pais...por isso tive que reprograma-la!

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Enguias.....adestradas?

Como abrir garrafa de vinho sem abridor.flv

Churrasco na garrafa Pet

‘Em vez da sexualidade, a Igreja deveria priorizar os problemas de justiça social'


por Gabriel Brito

De quebra, Francisco passou pelo Brasil, por conta da Jornada Mundial da Juventude, já marcada desde antes de sua escolha, suscitando em nosso país debates sobre as questões mais urgentes na relação Igreja-fiéis. Em entrevista ao Correio da Cidadania, Regina Soares Jurkewicz, da organização feminista Católicas pelo Direito de Decidir, analisa as nuances do novo papado e as ideias até aqui transmitidas em seus primeiros dias de líder da Igreja.

"Em princípio, ainda percebemos um conservadorismo, que se fortalece com a presença de um papa carismático. Porque ele é diferente do Ratzinger, que propunha uma visão da Igreja que só condena. Esse papa não chega a tanto, mas a base doutrinal parece a mesma", afirmou.

Apesar do discurso social mais antenado à realidade, Regina tem ressalvas a respeito de uma possível radicalização, que confrontasse inclusive os dogmas do sistema econômico vigente. Além disso, não mostra satisfação a respeito de suas posições sobre questões da esfera moral e também do papel das mulheres dentro da Igreja "Infelizmente, ele não fez nenhum aceno positivo sobre o assunto. Até disse que o sacerdócio feminino é um assunto definido, fechado".
"Precisamos de uma Igreja que olhe para a realidade, que ouça o que seus fiéis vivem e falam", resumiu, citando pesquisa realizada pelo seu grupo, com o Ibope, na qual se atesta o amplo apoio da juventude católica em temas como o direito ao aborto, divórcio, casamento entre pessoas do mesmo sexo, liberação sexual etc.
A entrevista completa com Regina Soares Jurkewicz pode ser lida a seguir.
Correio da Cidadania: Em linhas gerais, qual o balanço que vocês, da ala progressista da Igreja, fazem da eleição e da visita do papa Bergoglio ao Brasil?

Regina Soares Jurkewicz: A vinda dele ao Brasil, sobretudo na Jornada Mundial Juventude do Rio de Janeiro, deixa a imagem de um papa como líder mais simpático e carismático, capaz de falar que a igreja tem de se abrir, ir para a rua, falar para os padres e religiosos estarem no meio do povo... Ele falou para a juventude de modo preocupado com os problemas econômicos, sociais, o desemprego. Estimulou a juventude a fazer protestos, lutar por uma vida diferente. Por exemplo, quando ele falou com os argentinos, disse "hagan lío", isto é, façam confusão, mexam-se, não se acomodem.

O papa anterior tinha um jeito muito mais sisudo e fechado, pedia uma igreja mais espiritualista, criticando só o materialismo, o relativismo cultural... Agora vemos um papa que tem outro discurso e aparenta outra visão de igreja, que critica o clericalismo, se diz favorável à laicidade do Estado etc.

Portanto, tem algumas coisas que reconhecemos como positivas e podem trazer um novo ar. Bergoglio já fez algumas declarações no sentido de querer eliminar realmente a corrupção e também de combater a pedofilia na Igreja. Há várias áreas problemáticas dentro da igreja e o papa Francisco vem falando um pouco sobre elas.

No entanto, não podemos falar muito mais com cerca de cem dias de papado, ainda uma fase bastante inicial. Mas pelo menos no seu discurso a gente vê algumas coisas positivas. Mais positivas, inclusive, do que vimos enquanto ele foi o Cardeal Bergoglio, quando ouvíamos outras coisas não tão agradáveis.

Correio da Cidadania: O que teria a dizer do envolvimento e contribuição dos distintos governos para a realização de todos os eventos que marcaram sua passagem por aqui, especialmente no que se refere aos gastos financeiros?

Regina Soares Jurkewicz: Somos absolutamente contra. Se vivemos num governo laico, ainda que o papa também seja um chefe de Estado, porque o Vaticano tem status de nação, não se justifica um gasto tão grande num país onde há pluralidade religiosa. Não é um país totalmente católico, aliás, cada vez menos. Uma pesquisa recente do Datafolha mostra que 57% da população se diz católica, uma redução muito grande, visto que há 20 anos era 75%. São 20 unidades percentuais abaixo.

O que percebemos? Os protestos e as pessoas que participam dele estão corretos, têm toda a razão de cobrar do governo que não trate o dinheiro público dessa maneira, razão pela qual somos contrárias ao gasto realizado.

Outra coisa grave é a concordata feita entre a Igreja Católica e o governo brasileiro, já há algum tempo, muito em silêncio, pois sequer a imprensa soube ou repercutiu (o acordo de Brasil-Vaticano de 2009 estabelece o estatuto jurídico da Igreja Católica no Brasil, concedendo isenções tributárias, reconhecimento às suas instituições de ensino, cooperação na preservação de seus bens culturais, entre outros benefícios).

Há um tratamento muito equivocado da laicidade do Estado brasileiro e acredito que a Igreja abusa disso. É simpático que o papa seja um homem que aponte para a simplicidade, que não queira nada ostensivo, tampouco o culto à personalidade. Isso tudo é muito apreciado, mas ainda insuficiente.

O governo não deveria de maneira nenhuma gastar o que gastou no Rio de Janeiro. Foi um abuso. Preparou toda uma área, particular como se sabe, e não conseguiu realizar os eventos. Foi muito desagradável, além de economicamente equivocado e injusto.

Correio da Cidadania: Como avalia a estratégia do papa Bergoglio, e talvez da própria Igreja (que pela primeira vez elegeu um latino-americano como sumo pontífice), de se apresentar como um papa dos pobres? Esperam o fim da repressão à Teologia da Libertação?

Regina Soares Jurkewicz: O papa dá sinais nesse sentido. Embora o discurso seja de sensibilidade aos pobres, ainda não é um discurso, ou não apareceu como tal, que vá claramente contra as estruturas econômicas. É mais um discurso de acolhimento aos pobres, mas não uma crítica elaborada e sistemática, como aquela feita pela Teologia da Libertação. A Teologia da Libertação tinha um caminho e uma compreensão de Deus a partir dos pobres da América Latina. Vi alguns teólogos dessa corrente mostrarem esperança. Não sei. O tempo dirá. É a hora de as coisas acontecerem ou não acontecerem.

Mas em princípio ainda percebemos um conservadorismo que se fortalece com a presença de um papa carismático. Porque ele é diferente do Ratzinger, que propunha outra coisa, uma visão da igreja que só condena. Esse papa não chega a tanto, mas a base doutrinal parece a mesma ainda, isto é, conservadora. Bergoglio não mostrou outra base de entendimento e compreensão, mas trouxe um ambiente de mais alegria, as pessoas estão contentes com ele.

No entanto, é cedo pra fazer qualquer afirmação no sentido de que, de fato, teremos uma Igreja que quer se transformar, olhando novamente para a Teologia da Libertação. E, muito menos ainda, o papa sinaliza olhar para um reconhecimento da teologia feminista.

Correio da Cidadania: Desse modo, acredita ser difícil que seus discursos possam incluir críticas ao próprio modo de vida e produção capitalistas, uma vez que isso também esbarraria em questões incômodas à própria igreja, a exemplo das obscuridades e irregularidades relativas às operações do banco do Vaticano?

Regina Soares Jurkewicz: Acho que se ele quiser fazer isso, vai enfrentar uma briga. Ele falou várias vezes "rezem por mim". É a frase mais repetida pelo papa Francisco.

De fato, mesmo não falando das questões da moral sexual, que vejo como mais difíceis ainda de abordar, a transformação da cúria romana e a aceitação da Teologia da Libertação são coisas que não podemos dizer que não acontecerão. Mas acho precoce falar que seu discurso a favor dos pobres signifique uma sintonia e apreciação positiva de Roma frente à Teologia da Libertação.

Não sei se a médio ou largo prazo isso pode ocorrer. Tomara que papas e igrejas alcancem práticas diferentes. Há grupos de cristãos que resistem bravamente dentro da Igreja, baseados no pensamento teológico da libertação. Mas são uma ala, que precisa resistir. Não dá pra dizer como será no futuro.

Por enquanto, pelas mensagens transmitidas, não podemos afirmar nada nesse sentido.

Correio da Cidadania: O que pensa a respeito das diversas acusações a respeito da relação de Bergoglio com a ditadura argentina?

Regina Soares Jurkewicz: É muito complicado. Não acompanhei tanto o assunto anteriormente. Mas conheço pessoas na Argentina que afirmam que de fato houve tal relação. Afirmam que ele não foi um bispo que denunciou, e sim um bispo que deixou de acolher os perseguidos, não esteve a favor dos pobres nesse sentido. Assim como já ouvi versões que negam qualquer vínculo. Não sei como apurar, não tenho elementos que me permitam fazer afirmações definitivas, apenas tenho ouvido falar.

Mas é muito grave. Se de fato houve vínculo com a ditadura, inclusive em suas funções de bispo, é pior ainda. É difícil uma pessoa mudar. Temos o exemplo de Oscar Romero, um bispo de El Salvador que passou por uma conversão, um processo de transformação muito grande. Mas não é comum de acontecer. Se há esse envolvimento com a ditadura argentina, de fato é muito grave.

Correio da Cidadania: Partindo para o campo dos costumes, onde em nosso país a Igreja tem enorme influência, inclusive política e jurídica, como avalia seus discursos e posições? O que podemos esperar desse papado a respeito do combate da Igreja a direitos civis fundamentais (sexualidade, status social e eclesial das mulheres, aborto, divórcio, direitos LGBT etc.)?

Regina Soares Jurkewicz: No aspecto da doutrina da Igreja no campo da moral sexual, a mudança não ocorre no discurso, muito menos na prática. Ele não destacou os aspectos mais polêmicos, que são as questões da homossexualidade, do aborto, do uso do preservativo. Sequer falou disso em sua passagem. Só no final, numa entrevista aos jornalistas, já indo embora.

E aí pensamos que as coisas não mudam em relação ao entendimento da união estável entre pessoas do mesmo do sexo, em relação ao uso dos preservativos... De modo que continua existindo uma dissonância muito grande entre o que a igreja hierárquica define e o que os fiéis católicos vivem, sobretudo os jovens.

Recentemente, fizemos uma pesquisa, com o Ibope, sobre a juventude católica, em nível nacional, e ela mostra isso: 82% são favoráveis ao uso pílula do dia seguinte; 56% por cento são favoráveis à união estável entre pessoas do mesmo sexo; 90% apoiam a punição de religiosos envolvidos em crimes de pedofilia e corrupção; 72% aprovam o fim do celibato para os padres; 62% a ordenação de mulheres...
Correio da Cidadania: Mais especificamente a respeito das mulheres, é possível esperar um papado que traga avanços em relação à sua atual interdição funcional e sacramental pela hierarquia masculina da Igreja?

Regina Soares Jurkewicz: Infelizmente, ele não fez nenhum aceno positivo sobre o assunto. Até disse que se trata de um assunto definido, fechado. Inclusive em relação ao sacerdócio feminino. E é um problema sério, porque o espaço do sacerdócio é o símbolo do saber e do poder, é a hierarquia. É exercido por aquele que estudou teologia e celebra na Igreja. É um espaço do sagrado que também significa espaço de poder dentro da Igreja. E tal espaço não se abre para as mulheres. Ou seja, não há uma noção de direito.

Quando eles falam, em relação aos gays, "vamos acolher, integrar os gays, não marginalizá-los", claro que não diremos que é uma postura negativa. Porém, é diferente de dizer "tanto a hetero como a homossexualidade são abençoadas por Deus e dignas do ser humano". Não é uma questão de misericórdia. Deveria, sim, ser tratada como questão de direito, em relação à democracia interna da igreja. É uma igreja extremamente masculina. Na eleição do papa, os fiéis não têm nenhum acesso, muito menos as mulheres. Quem participa dos concílios e define as diretrizes são só os homens.

Portanto, é uma Igreja que continua masculina, agora com uma cara simpática, a do papa Francisco, mas que ainda não deu nenhum aceno de ser mais democrática, de defender a igualdade de direitos entre as pessoas. E pelo que conhecemos não há razões teológicas que impeçam isso. Tanto que há outras igrejas cristãs onde as mulheres celebram, são pastoras, bispas etc. Nesse sentido, infelizmente, a Igreja ainda marca um atraso muito grande em relação aos nossos tempos.

Correio da Cidadania: Quais deveriam ser as principais prioridades da Igreja em suas ações? Que valores, ideias e ações ela deveria incentivar em seus seguidores e transmitir à sociedade?

Regina Soares Jurkewicz: A primeira coisa que a Igreja tem de fazer, antes de tudo, é ouvir. Não é nem o caso de fazer algo, mas sim ouvir o que seus fiéis vivem e falam. Eliminar a dissonância entre o discurso teológico e a vida dos fiéis. E mesmo na prática pastoral.

Por exemplo, que avance na questão do entendimento de não condenação da sexualidade. Que a Igreja deixe de ficar pregando valores como a virgindade, relacionando-o à santidade. São valores que não correspondem aos tempos atuais e ao que dizem as pessoas. Que não defenda o casamento para sempre, ou seja, sob qualquer ônus. Muitas vezes vemos situações de mulheres que sofrem violências no casamento e a igreja fica defendendo que ela continue, seja tolerante, no caso, que continue apanhando.

Precisamos de uma Igreja que olhe para a realidade. Vemos no Brasil um índice de violência muito alto contra as mulheres. A Igreja tem de ter um olhar e respostas para essas questões, estimulando as pessoas a viverem nela. A Igreja tem dado respostas a perguntas que não são feitas. Trabalha uma ética fraca, que não toca a vida das pessoas.

Por outro lado, em vez de fazer tantos documentos focados nas questões ligadas à sexualidade, ela precisa se voltar aos problemas de justiça social. Priorizar as questões planetárias, isto é, falar do mundo ameaçado, do meio ambiente totalmente ameaçado. Não dá pra ter uma Igreja que não enxerga os problemas mais graves relacionados às vivências concretas das pessoas.
Gabriel Brito é jornalista do Correio da Cidadania.




vi no Controversia:


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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Empresa israelense lança bateria solar “eterna”

Social:

Consumidor Moderno Consciente
A companhia israelense Sol-Chip desenvolveu um tipo de bateria solar que pode acabar com o problema de troca de baterias em dispositivos móveis e remotos. De acordo com a empresa, o produto se alimenta de luz solar e não perde a carga, podendo ser aproveitado “infinitamente”.
Isso poderia resolver o problema ambiental que envolve o descarte de baterias. Segundo o site governamental Coleta Seletiva Solidária, pilhas e baterias de celulares, câmeras digitais, controle remoto e relógios, entre outros aparelhos, contém materiais que contaminam o solo e os lençóis freáticos, deixando-os impróprios para utilização, podendo provocar problemas de saúde como danos para os rins, fígado e pulmões.
Segundo aponta o Green Prophet, Shani Keysar, fundadora e CEO da Sol-Chip, passou 15 anos trabalhando na indústria de semicondutores e, durante esse tempo, passou a entender a enorme necessidade de uma bateria com fonte de energia infinita para eliminar gastos e degradação ambiental. Atualmente, o aparelho possui 8,4 volts de saída, que podem ser utilizados em dispositivos como sensores em aplicações de pecuária e agricultura.
A Sol-Chip já está trabalhando com uma outra empresa israelense especializada em irrigação por gotejamento, a Netafim, para a implantação das baterias solares em sua tecnologia. Inicialmente, porém, o foco para esse novo produto é a Europa e a América do Norte.
(Consumidor Moderno Consciente)

vi no Racismo Ambiental

Empresa israelense lança bateria solar “eterna”

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Paul Ricoeur - Grandes filosofos

Celtic Woman - An Angel 2011

Celtic Woman - When You Believe

May it Be - Lisa Kelly

domingo, 4 de agosto de 2013

Vandana Shiva - Privatizando a vida

O TEMPO E O MODO - Vandana Shiva

Médicos e militares ganham o maior salário; filósofos e teólogos, o menor


Marília Almeida
Remuneração dos médicos continua no topo
O profissional que opta pela carreira de medicina pode ter um salário médio de R$ 8,4 mil, taxa de desemprego de 3% e 93,5% de chances de ter um emprego formal. Por outro lado, quem decide pela formação religiosa pode ter que encarar um salário médio de R$ 2,1 mil e 10% de desemprego, além de 78,89% de chance de encontrar um emprego formal.
A conclusão faz parte do levantamento do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). O estudo, feito com base em dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, foi divulgado nesta quarta-feira (3).
O levantamento considerou 48 carreiras universitárias. Comparou-se a performance trabalhista de pessoas com alguns atributos iguais, como idade, gênero, estado e tamanho de cidade, mas que seguiram diferentes carreiras universitárias. 
Entre as que registram os dez maiores salários, cinco estão ligadas ao curso de Engenharia.
As carreiras que pagam os maiores salários
CarreiraSalário Médio Mensal (R$)
Medicina8,4 mil
Setor militar e de defesa7,6 mil
Serviços de transporte6 mil
Engenharia química5,8 mil
Engenharia civil5,7 mil
Engenharia mecânica e metalúrgica5,5 mil
Odontologia5,3 mil
Engenharia (outros)5,2 mil
Engenharia elétrica e automação4,8 mil
Estatística4,7 mil
Fonte: Microdados do Censo Demográfico 2010/IBGE
Quem, em idade ativa, tem mais chance de conseguir trabalho são justamente profissionais de medicina, com 97%, enquanto os que menos têm chance são os formados em filosofia, com 89%. Quem estudou teologia encontra 89,90% de chance de encontrar emprego.
As carreiras que pagam os menores salários
CarreiraSalário mensal (R$)
Religião2,1 mil
Filosofia e ética2,3 mil
Educação e formação de professores2,4 mil
História e arqueologia2,6 mil
Letras, línguas e culturas2,6 mil
Geologia e ciências da terra2,7 mil
Educação física e esportes2,7 mil
Outros serviços pessoais (beleza e domésticos)2,7 mil
Matemática2,8 mil
Biologia e ciência da vida2,8 mil
Fonte: Microdados do Censo Demográfico 2010/IBGE
Paulo Meyer Nascimento, pesquisador do IPEA, aponta que a carreira de engenharia teve destaque ao longo da última década. "Houve uma grande demanda por esses profissionais, o que levou a um aumento na formação de engenharia a partir 2005 até chegar a um boom em 2009".
O pesquisador ressalta que a contratação de engenheiros depende do desempenho da economia, o que deve ser pesado na hora da escolha da carreira. "Se ela não vai bem, o setor não fica tão aquecido". 
Qualidade de vida e formalização
Os engenheiros mecânicos são os que têm jornada mais longa – com 42,9 horas semanais –, enquanto os formados em física trabalham menos, 34,6 horas semanais. 
O grau de formalização também pode ser considerado. Neste quesito, a campeã em proteção trabalhista é a militar, por ser uma carreira pública. Tem 97% de cobertura previdenciária.
Enquanto isso, os menos protegidos são os que trabalham com serviços pessoais, como estética, que têm 72% de cobertura, devido ao viés empreendedor da atividade, na visão do Ipea.





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