segunda-feira, 27 de junho de 2011

Competência Existencial I - Leituras sobre a parábola do Filho Pródigo.

Competência Existencial I
Leitura sobre a parábola do Filho Pródigo (parte 1 de 2)




Ao nos depararmos com a parábola do filho pródigo, atenta-se primeiramente ao arquétipo do retorno de um menino idiota, que ao deparar-se com a curva da vida (vale escuro, crise..) desenvolve uma forma de arrependido que o leva pelo caminho de volta a casa paterna, onde encontra um pai amoroso e desejoso por rever-lo. A leitura de uma parábola possibilita uma infinidade de percepções, alias, era essa a razão pelas quais era usadas. Minha proposta aqui é a de observar o filho mais velho, e refletir sobre nossa incompetência existencial exposta na personagem.
O filho mais velho era um incompetente existencial. Se tomarmos a palavra Competência descobre-se que expressa a capacidade de um indivíduo (ser) para a execução de algo, no caso, um papel. Logicamente, que ao utilizar o conceito competência, estamos pressupondo que o individuo tenha todas as ferramentas e condições para execução da coisa. Apenas disso, poderíamos medir a competência de alguém para alguma coisas, com relação a capacidade de fazer, mesmo diante de adversidades.
O filho mais velho da parábola tinha todas as condições de ser O Filho, notem que além de possuir um pai justo, possuir uma boa saúde e a disponibilidade de bens, e o mais significativa das condições, com a saída do filho mais novo, ele possuía todo espaço para ser O filho. Mas ele simplesmente não foi capaz de assumir seu lugar.
Na administração existe um conceito, da mesma família que a lei de Morph, que diz que alguém, em uma empresa com cargos organizados hierarquicamente será promovido até alcançar um cargo que esteja além da sua competência, e ali permanecerá. Tal conceito é conhecido como Princípio de Peter. É curioso que o filho mais velho sempre foi o filho mais velho, e coisa deveras importante nas culturas tradicionais, dando-lhe autoridade muito grande sobre as coisas, inclusive sobre os próprios bens. Mas o filho mais velho nunca foi capaz de sentir-se dono, apenas continuou sentindo-se como um servo de seu pai. É curioso que o raciocínio básico do mais novo era ser tratado como servo, e a reclamação do mais velho era que vivia como servo.
Alias, o filho mais novo era bem mais autentico que o mais velho, tendo em vista que sabia o que queria e considerando sua atitude sincera de ir em direção daquilo que seu coração clamava. Não parece haver no texto algum juízo explicito de valor indicando que o que ele fez foi bom, pelo contrario, pois abandonar a família daquela forma é uma afronta ao pai, assim como a solicitação da herança era uma declaração de desejava-se a morte do patriarca. Mas que ao solicitar ele demonstrou profunda sinceridade para com a vida e para consigo mesmo, ele poderia ter assassinado o pai, mostrando se um mal caráter, mas não o fez. Ele não era perfeito, mas buscou algo.
O filho mais velho é um fracassado existencial porque não buscou nada. Talvez alguém me diria que ele buscou agradar seu pai, mas note que um pai deseja de seu filho muito mais que um mero escravo, mas deseja que este desenvolva-se e de continuidade a suas obras. Note que o argumento básico é que o pai nunca lhe dera um cabrito para festejar com os amigos. Isso é extremamente significativo, pois imagine a situação de uma festa com amigos, (quem nunca fez isso?), e imagine isso em uma fazenda...considerando os costumes rurais e a idade do cabra, poderia ser até que seu pai tomasse parte na festa. Mas ainda que tal conjectura faça sentido, ela não é importante, porque o argumento de que o pai não lhe deu nada é irrelevante mediante a figura toda, é um motivo besta, infantil, pequeno, mesquino e acima de tudo, infiel.
O texto esta falando da relação entre os fariseus e escribas, arautos da ortodoxia judaica, para com os pecadores. Sim, o problema da pregação de Jesus não era um problema propriamente teológico, mas sim religioso. Note que o problema da graça de Deus é que ela iguala a todas as pessoas, e os religiosos se esforçavam tanto para estarem mais próximos de Deus, não conceberiam aceitar que os pecadores fossem incluídos na comunidade dos santos. O esforço religioso de não tocar e não fazer baseia-se em ideais humanos e por vezes absurdos, que deixam de lado o verdadeiro ser.
A idéia de ser feliz sendo escravo, ou ser feliz sendo religioso, não tem problema nenhum. O caso é que sendo religioso, ou escravo, ou ainda, tendo um comportamento de escravo, não gera o direito de exigir com base nisso a obediência das pessoas que servimos. A religião é um mero caminho, ou paradigma, que deveria ajudar na espiritualidade, mas que no final, na maioria dos casos, transforma-se em um sistema ou uma instituição que aprisiona a consciência, como uma gaiola que nos obriga achar feio o lado de fora, bonito é estar preso. As religiões afirmam ideais que às vezes tornam-se muito elevados até mesmo para seus agentes.
Não que os ideais sejam ruins, pois eles nos motivam a melhorar, a crescer e construir um mundo melhor, mas quando deixamos de ser o que somos, por causa de idéias e ideais, isso nos mata como seres humanos. Quando nós entendermos como pessoas teremos muita facilidade para encontrarmo-nos com o próprio Deus, pois ele nos fez assim, ele nos estruturou assim. Neste sentido, quando estamos longe dele, e retornamos, ele sempre nos recebe de braços abertos porque ele nunca muda. 


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