segunda-feira, 18 de abril de 2011

O que está acontecendo com a Igreja?


Encontrei o texto abaixo no Circulo Teológico, e achei importante demais para não ser lido. Acredito que isso é mais comum do que parece, e ainda, a reflexão final aponta para o caminho do amor para o próximo...




O que está acontecendo com a Igreja?


Ontem (sábado, 17/04/2011), Saí da Pós-Graduação e fui ao antigo bairro onde residi por longos 20 anos com dois objetivos:
1) Visitar e orar por um ex-vizinho, porém amigo que está com suspeita de câncer no pulmão;
2) Ver a quantas iam o trabalho do pedreiro que estaria em casa de minha mãe, fazendo alguns reparos.

Embora, o objetivo principal de minha missão fosse visitar um enfermo, não é sobre ele que quero falar-lhes, mas sim sobre o pedreiro, e quero iniciar essa reflexão com uma pergunta: O que está acontecendo com a Igreja de Cristo?

Para que possamos avançar nesse texto, devo esclarecer alguns pontos:
Ao chegar em casa de minha mãe não vi sinal de nenhuma obra em andamento. O material estava armazenado na varanda, tal como havia sido deixado pelos entregadores da loja, e, minha mãe, assentada na sala, assistia televisão, enquanto me esperava. Adentrei à casa e perguntei-lhe então: " - Ué! cadê" o pedreiro que vinha reformar o telhado?
Essa pergunta ligou o "botão da revolta" na mente de minha mãe, que se levantou e começou a dizer algumas palavras não muito agradáveis sobre o contratado, que não havia cumprido a sua palavra no trato. E, depois de esbravejar um "bocado", disse; " - O indivíduo faltou, porque estava com a cara cheia de cachaça!" "Indivíduo" não foi bem a palavra que ela usou.

O pedreiro, que vamos chamar de João (por uma questão ética, omitirei o seu nome verdadeiro), há mais de 20 anos, era membro de uma igreja pentecostal. João trajava sempre a clássica indumentária do "crente" varão: Camisa social (manga comprida), calça social, e chinelo de dedo mais conhecido como chinelo bambolê, ou se preferirmos, sandálias havaianas, inclusive no trabalho. Era sério e sisudo, quase não sorria, vivia com a bíblia debaixo do braço, passava em frente à nossa casa todas as noites e aos domingos pela manhã na ida e na volta da igreja quase não conversava com os "ímpios", para não se contaminar, e quando abria a boca para falar, comunicava-se em dois idiomas: o "evangeliquês" e o "crentês". Era um indivíduo responsável, embora nunca fosse um bom pedreiro - não tinha capricho com o seu trabalho, mas era respeitado na comunidade. Agora, João, se tornou um bêbado, que - segundo a esposa desabafou com a minha mãe - chega bêbado em casa, quebra toda a louça, e, ontem, eles não tinham nada em casa para comer porque " - o João abandonou a igreja, Dª Célia, e só vive bêbado. Gasta todo o dinheiro que ganha, com cachaça. Ontem chegou em casa embriagado, xingando muitos palavrões, quebrou um monte de copos, e hoje cedinho foi para o bar encher a cara de cachaça." Disse ela para a minha mãe.

Eu fico triste com esses relatos, independente de igreja ou de religião, e no caso do João, venho observando a sua trajetória há muito tempo. Os seus filhos, que vi todos pequeninos e os acompanhei crescendo, viviam na igreja com o pai e com a mãe. O casal sempre passava um ao lado do outro acompanhados de uma "penca de crianças". Mas enquanto o tempo passava, os filhos e as filhas do João iam se afastando da igreja. As meninas foram engravidando e se envolvendo com rapazes de má índole, enquanto que os filhos do João, um a um, foram se tornando eles também, rapazes de má índole, envolvendo-se com drogas, roubos, sendo presos... Comportamento tão criticado pelo João, quando esse era um "crentão". João costumava "descer a lenha" na vida dos católicos, dos "pagãos" e dos "ímpios" - palavras muito usadas pelos evangélicos para definir as pessoas que não comungam de suas crenças e ou possuem um estilo de vida diferente dos deles - com seu clássico "crentês", usando versículos bíblicos tão bem memorizados e decorados na ponta língua. Mas como está escrito na carta de Tiago: "Ora, a língua é fogo..." (Tg 3.6) - Leia os capítulos 3 e 4 da carta de Tiago.

Sei que temos muito a discorrer nessa reflexão, e o meu tempo é pouco - o bom disso é que posso voltar ao assunto mais tarde - mas quero dizer que muitos fatos ocorreram, enquanto os filhos do João cresciam. Não estou responsabilizando a igreja (denominação) pelo que ocorreu com os filhos do João. Certamente - tomo todo o cuidado para não julgar o João - este faltou com uma educação mais apropriada aos seus filhos, como por exemplo, os limites e as orientações, embora, creio eu, que uma igreja que possui uma eclesialidade sadia pode ajudar muito, aos pais a educarem o seus filhos. Sei que o ambiente comunitário, assim como o ambiente familiar, além do ambiente eclesial e escolar, também contribuem para a formação do indivíduo. Entretanto, volto a perguntar: o que está acontecendo com a Igreja de Cristo? Ao fazer essa pergunta, estou me referindo à Igreja corpo de Cristo - pessoas.

Muita gente tem feito o caminho inverso: da igreja (denominação), para o alcool, para as drogas, para a prostituição... enfim. Sei que somos capazes de fazer as nossas escolhas - e em minha opinião a predestinação é somente com relação à Salvação e provém da Soberania de Deus - mas com certeza, alguma coisa aconteceu ao João, no decorrer da sua caminhada evangélica. Uma pessoa que não bebe (principalmente um cristão), dificilmente, em uma manhã, levantar-se-a da sua cama, e num repente, dirá: "Eu hoje, vou encher a cara!"
As coisas vêm acontecendo aos poucos, de uma forma gradativa, até que um dia...

Já conversamos aqui no Círculo Teológico sobre isso (algumas postagens abaixo) sob o título de O QUE É A IGREJA?
Aproveito a oportunidade que encontrei nesse fato ocorrido na vida do João, para dizer duas coisas:
1) Nunca julgue ninguém;
2) Cuide do seu irmão.

O Apóstolo Paulo disse certa vez, que "aquele que está de pé, cuide para que não caia". A queda sempre se inicia na arrogância e na prepotência, ou seja, na soberba. A queda passa pela língua inflamada, e, a queda quase sempre é fruto do descaso e do abandono. Por isso, sempre digo: cuide do seu próximo, cuide do seu irmão. Você que está de pé, ajude aquele que está por algum motivo, enfraquecido. A vida é dura, e em algum momento da caminhada podemos tropeçar, e até mesmo cair. Eu costumo dizer que para morrer basta estar vivo. Para cair, basta estar de pé! Seu irmão está sumido, ou sinalizando que está com dificuldades? Fique atento, estenda-lhe as mãos. Hoje é ele, amanhã pode ser um de nós.
Austri Junior



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