terça-feira, 15 de maio de 2012

CENA CONTEMPORÂNEA: EMICIDA VERSUS ALEXANDRE PIRES


CENA CONTEMPORÂNEA: EMICIDA VERSUS ALEXANDRE PIRES
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  Acredito que muita gente deve ter tido noticia de dois acontecimentos um tanto periferericos no último final de semana. Um foi a "nova" música de Alexandre Pires onde negros + Neymar do futebel aparecem vestidos de macaco e e na própria letra há uma sugestão da relação. Música de péssima qualidade (bem a altura do compositor cabeça de vento e midiático). O ministério público se posicionou "julgando" insitação ao racismo. No sábado e domingo o dito cator teve espaço em horário nobre para se defender afirmando ser negro e contra o racismo. No programa "Fantástico" (titulo historicamente apropriado!) do domingo na rede globo, mais uma vez tava lá o Alexandre Pires e de novo dizendo que a música não f a z apologia ao racismo. Só que em nenhum momento ele entra no conteúdo da música e na "coreografia" (que já diz muito sobre racismo ou não). Lamentável e coerente a situação da música brasileira. lamentável pelo tipo de vulgaridade apelativa, pobre e preconceituaosa que embarca certos "gêneros musicais" nos dias atuais num País tão rico em ritmos e letras. Coerente porque este é o "estado da música hegemônica brasileira" contemporânea. Tola, pobre em coreografia (basta ver a "coreografia" sutil de M. Teló!!!) e com rara criativadade (para se ver o que significa criatividade na música, vejamos "Alquimistas do Som", documentário sobre a música experimental no Brasil).
Segunda noticia. O rap Emicida foi preso no domingo acusado pela própria policia de belo horizonte de incitar a violência e desacato as autoridades (a mesma policia que sabe o que é respeitar ser humano pobre no Brasil! tem diploma disto). Na midia apenas a noticia de que ele foi preso e a razão da policia, obviamente. nada de sua fala, de sua defesa e da música em questão. Trata-se da inteligente "Dedo na Ferida", onde o rap dedica aos muitos e muitos pobres deste Pais que são despejados de suas moradias onde ocupavam, crianças humilhadas e agredidas pelos mesmos educados policiais que prendem gente como Emicida e faz vista grossa para os Alexandre Pires da vida. A música indica como um dedo na ferida mesmo o seguinte: "Porque a justiça deles, só vai em cima de quem usa chinelo". Precisa mais? Na verdade o que a policia prendeu não foi simplismente o rap, mas um tipo de música que fala e se coloca ao lado dos de baixo neste País profundamente injusto, perverso com os da "Senzala" (metafora mais que apropriada no dia 13 de maio!!!???). A "Casa-Grande" deste Pais não suporta as músicas (diga-se de passagem, bem construida esteticamente e sem apelação a cabeças de vento como Neymar ou a mulheres pelada s da midia pornográfica e moralista, ao mesmo tempo). Como muito bem diagnosticou o Psicanalista Tales Ab`Sáber no seu extraordinário ensaio sobre o Brasil contemporâneo "Lulismo: carisma pop e cultura anticrítica" (editora Hedra, 2011), o nosso debate atual esta completamente rebaixado pelo triunfo absurdo da "cultura anticritica" de entronização da irrelevância como norma. Como não acredito em dominação total, vejo em figuras como Emicida e na sua coragem e inteligência a esperança de termos sempre algo esteticamente contra-hegemônico nessa maré de lama e de mediocridade promovida que campea na cultura brasileira atual. Por fim e percebendo uma pequena ironia nessa história: ambos são negros, Emicida e Alexandre Pires. É fato notório. Mas um vem e se identifica com a "Senzala" o outro vive e se identifica com a "Casa-Grande" (midia hegemônica, revistas sensacionalistas, programa bobocas de auditório e por ai vai). Aqui esta a ironia e uma pequena a legoria da história do Brasil que chega aos nossos dias sem completar o seu "13 de Maio de 1888" e ainda na espera real do seu "20 de Novembro".

Romero Venancio (UFS) 

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