sábado, 11 de fevereiro de 2012

Sobre os pastores pós-modernos…

Sobre os pastores e pós-modernos…
Conversa com alunos (4)


            Este texto tem a finalidade de esclarecer algumas idéias colocadas em recente debate com a turma do facebook, especificamente sr Roberto Aguiar, Salomão Segóvia, Oclécio Cabral e Willian, agradeço a eles e aos demais pela oportunidade de pensar em temas tão importantes.
            Este texto é uma tentativa de síntese de algumas idéias, então, precisa ser melhorado e deve conter erros lógicos e gramaticais. Não é definitivo nem é a verdade suprema, mas sim uma contribuição humilde ao assunto discutido...


            Estava-se discutindo o problema referente aos pastores pós-modernos, no sentido de que estes seja um flagelo que assola as igrejas cristãs contemporâneas. Gostaria de apresentar alguns argumentos no sentido de afirmar que esta premissa está errada, e que existe um outro problema que deve ser vencido, a saber, a própria noção de ministério pastoral.
           Primeiramente é preciso discutir a noção de pós-modernidade. As leituras mais interessantes são Baumann, Giddens, Lyotard, Harvey, Thompson, e o próprio Foucault. Talvez uma lida no Anti-édipo do Deleize e Guatarri, mas acho que isso é fundamental para entender a coisa. Outros teóricos, com alguma razão, afirmam que a pós-modernidade não existe, pois é muito parecida com a própria modernidade. Essa discussão se existe ou não é ótima, justamente porque mostra o quando é volátil a percepção de onde estamos e para onde vamos. A pós-modernidade não deixa de ser uma modernidade, no casos, ela apenas levou às ultimas conseqüências os valores mais importantes. Habermas e Boaventura de Souza Santo fazem uma leitura diferente, no sentido de que o que experimenta-se hoje é uma crise da crença dos grandes mitos modernos, principalmente a idéias burguesa da sociedade do trabalho, e em segundo lugar a crença na sociedade cientifica que os positivistas afirmavam veementemente. É aqui que a igreja entra na discussão...
            A igreja evangélica brasileira é fruto de um movimento do auge da modernidade, a saber, a grande segunda revolução industrial, onde o marxismo, o positivismo e o liberalismo estavam se consolidado em como doutrinas relevantes. Os missionários protestantes, grande parte maçons, e portanto, adoradores do iluminismo, tinham em suas agendas missionárias a ideias de que cultura americana e evangelho (Boff – da conquista à evangelização) era a indissociáveis, e portanto ensinar a bugrada a ler e se vestir era uma forma de pregar o Jesus. Portanto, os pastores das primeiras igrejas tradicionais eram modernos, ensinavam ciências aos membros da igrejas (menos Darwin, é claro) e combatiam a cultura brasileira, por representar valores negativos como a negação ao trabalho e a sensualidade.
            Os pentecostais clássicos (década de 1910) são o inicio de um movimentos que é mais pós-moderno que moderno, pois agora não é mais o que o livro de doutrina diz , mas o que Deus diz na hora, portanto, o sentimento, o empirismo e a vivência tomaram lugar da ordem e da regra (analise superficial, mas que serve para o propósito deste texto). Logicamente que somando-se o momento histórico e a personalidade afrobrasileira, o pentecostalismo continuo combatendo as coisas da terra, mas acabou discretamente misturado com a forma americana, dos ternos e dos púlpitos, mas agora com sabores bem mais ao sul. O ponto positivo deste movimento, tanto o norte americano como o brasileiro é a inclusão do negro, e posteriormente a inclusão da mulher no quadros de obreiros (quadrangular).tomando posse dos próprios valores que combatia. Isso 
            Os neo-pentecostais foram mais longe, pois nascendo na pós-modenidade propriamente dita aprenderam a falar o que o povo quer ouvir, e usando a mídia televisiva abocanharam o mercado religioso que surgem na fenecência da era militar. Os seus membros são pós-modernos porque não querem saber a verdade, querem apenas o produto, e querem sentir que estão fazendo a coisa certa, pragmática que funciona. Entretanto, na igreja tradicional não era muito diferente, pois apesar de terem uma doutrina forte e consolida, ainda tinha inúmeros valores que propiciava a alienação, como por exemplo: os tabus sexuais, a não ordenação de mulheres e ainda o racimos que acontecia algumas vezes, além disso, os mais ricos sempre era tidos com mais carinho nas comunidade, de modo que já havia uma relação simbólica entre benção de Deus e prosperidade material/financeira.
            Hoje existem pastores mais pós-modernos como o Caio Fábio, que tem uma igrejas que não tem membros e que ele mesmo prega em todas as comunidade em todos os dias. Diga-se de passagem, é um bom trabalho, apesar de as vezes algumas pessoas saírem porque queriam ter uma carteira de membros e desejarem ser disciplinadas. O Malafaia é pós-moderno também, em outro sentido, pois o seu discurso muda conforme a necessidade, afirmando palavras de ordem no púlpito, mas vendendo bíblias e promessas na tv. Ele é um caso interessante, que Baumann e Habermas nos ajudam a entender, pois na pós-modernidade ter um discurso forte e reacionário, associado com uma pratica frouxa faz todo o sentido, pois a ação reacinária virulenta é um produto, asism como uma camiseta do Che Guevara vendida no Mcdonald`s. Acredito que o John Piper é um pastor moderno conservador de verdade, só para termos um parâmetro para a discussão.
            Mas qual é o problema da pastorada? O problema não é nada simples, pois o que estamos vivemos é uma era que não terminou, e portanto, difícil de explicar. Se o pastor é empregado da igreja, ele tem que cantar conforme os dogmas, se não é expulso, isso é bem moderno alias, então ele pode ser um grande salafrario, conquanto que fale o que está no estatuto, ou o que o povo quer ouvir. Se o pastor é independe, ele terá que falar o que o povo quer ouvir, senão, não terá dinheiro para comer no final do mês. Nos dois casos, a coisa é sempre uma questão de trocas simbólicas, que configura o mercado religioso contemporâneo. Basicamente o que é variável é o cliente, o católico, por exemplo, tem como cliente a instituição, assim como um pastor da universal, mas a instituição a IURD, mas a IURD tem como cliente os freqüentadores, enquanto que a ICAR tem dinheiro suficiente para não depender de seguidores, portanto, não faz questão de correr atrás das pessoas. Em uma igreja independe, o cliente são os freqüentadores que precisam ser mantidos na casa, se eles não estiverem satisfeitos existem outras igrejas para ir.
            John Maxwell fala sobre a profissionalização do ministério pastoral como uma coisa boa. Ou seja, a igreja contrata alguém treinado para executar uma função, ou seja, a igreja paga o salário e o pastor pastoreia de forma eficaz. Não acho isso mal ou errado, pois se todos estão de acordo e feliz, ok, mas não é bíblico. O problema que acho sério, é o caso muito comum no Brasil onde as denominações tradicionais pagam salários para incompetentes que se acham pastores, sujeitos que não tem preparo para fazer o serviço eclesiástico, apesar de terem estudado em seminários (a igreja católica está cheia de padres incompetentes também). Logicamente que algumas denominações gostam deste tipo de pastor, pois tem cara de piedade e colocam-se em posição de vitimas do sistema. Nestas denominações, quando aparece alguém competente, ele rapidamente entende que não precisa da denominação e depois de dois ou três anos de trabalho, tendo aprendido o esquema, sai com 50 membros e abre sua creche.
            Notem que o problema é complexo, pois está na estrutura moderna de igreja que vivemos aqui. Esse modelo americano, importado em varias levas gerou algo doente e esquizofrênico. Esquizo (ler anti-édipo) no sentido de que espera-se que o pastor pastorei como ministério e vocação, mas cobra-se uma atitude de empregado. As pessoas que freqüenta a igreja querem um pastor bonito, que faça seu trabalho, não importa como. Ao mesmo tempo em que querem imaginar que tudo é Deus e que existe um mover sobrenatural por traz da coisa litúrgica.
            O que queria dizer, basicamente, é que dizer que o problema são os pastores pós-modernos é um erro, pois todos são isso. A pós-modernidade é o ethos atual, e fora disso existe muita pouca coisa acontecendo. Até os mais tradicionais, se olhados de perto, estão pós-modernizados em sua alma, basta ir a uma igreja Calvinista e Observar um apelo, ninguém se importa se a doutrina diz ou não-diz, o importante é cantar eu escolhi Sr. Jesus e ir na frente responder ao apelo.[i]
Qual o problema então? O problema é o processo de contextualização que a igreja deveria fazer está acontecendo da forma errada (generalização, pois existem acertos também). Pois não está se buscando fazer o evangelho compreensivo às pessoas, mas sim, tenta-se usa o rotulo “evangelho” como símbolo com a finalidade de ajuntar pessoas para movimentar-se recursos financeiros. Ou, no caso dos pastores honestos, usa-se o evangelho como símbolo para comunicar uma doutrina, que na visão do pregador é a verdade absoluta. Poucos ensinam as pessoas a ler o evangelho.
Exemplo disso é a doutrina da graça. Todos falam que a salvação é pela graça, mas esses mesmos exigem que faça-se rituais para ser salvo, rituais como casamento, santa ceia, batismo, erguer as mão para abençoar o dizimo e dar o tal dizimo. Se é pela graça é graça...ou não? ai fica-se discutindo se a Dilma fez pacto com o Diabo, ou se ter uma moto com a cruz invertida vai dar brecha para o diabo causar um acidente. Se somos salvos pela graça, eu tenho que me benzer para o diabo não me fazer mal? Tem que receber a oração forte para tirar o encosto ou mal olhado? É uma graça bem sem graça e um Diabo bem poderoso. Isso é bem diferente do que aparece na Bíblia, onde o diabo tenta as pessoas, mas mesmo assim o crente suporta a provação para adorar a Deus em meio a dentadas de leões.
Por fim, o texto é bem critico, por isso é necessários dizer que nas igrejas e no meio pastoral tem muito gente boa, gente com coração aberto e cheio de alegria em servir. Essas pessoas são as que mais sofrem com as garras da religião institucional, porque às vezes a bondade deles torna-se pecado ou heresia. É só lembrarmo-nos de São Francisco de Assis ou mesmo de um Marçal de Souza. Se o pastor admite um gay ou um mendigo na igreja, ele é julgado pelas pessoas que querem a igreja como um lugar puro e limpo (Baumann), sem gays, divorciadas, aleijados, prostitutas, gordos, estrangeiros e outros diferentes (Norbert Elias – Out siders).
Recomendação: acredito que é necessária a pregação do evangelho da autonomia. Ou seja, as pessoas precisam de pastores que as ensine a ler a Bíblia direito (não metaforicamente nem de forma moralista) e a viver como gente adulta. As pessoas não precisam de pastores que comandem suas vidas, que liderem suas ações, nem de pais ou mestres, precisam de orientadores que ensinem sobre tomar a responsabilidade das escolhas (Heidegger) e a busca constante da maturidade enquanto pessoa.


[i] Piada explicada (1) na doutrina calvinista, o crente é predestinado, portanto não repecisa de apelo para aceitar a Jesus. Ou o cabra é ou não é. semelhantemente dizer eu escolhi é heresia ao olhos de João Calvino, pois é Deus que induz o crente pela graça irresistível. Não estou dizendo que isso faz sentido, mas o caso é que é o que a doutrina deles diz.

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