Natal
é coisa de Criança
Reflexões
Natalinas (3)
Seguindo a discussão dos posts
anteriores, gostaria de tratar aqui de uma fundamentação bíblica basica do
Natal, a saber, Natal é coisa de Criança.
Parece óbvio, mas devemos observar que o real sentido do natal é o nascimento de Jesus, que seria o
salvador. Entretanto, deveríamos considera que nos textos Bíblicos canônicos
existem dois natais, que apresentam quase os mesmo valores, a saber, a criança
como ponto importante do processo kerigmatico e soterológico. (no
final do texto eu explicarei o que isso significa...)
Dizem os entendidos que Moises é um
tipo Jesus, ou seja, ele era um exemplo de como seria o messias. Isso nos ajuda
a entender, por exemplo, a necessidade de uma boa e consistente leitura do
Antigo Testamento, pois é nele que estão as bases culturais daquilo que viria a
ser o cristianismo.
O ponto alto do judaísmo e do
cristianismo é a páscoa, pois é ali que ambos os movimentos históricos tiveram
seus pontos de efervescência simbólica. Aliás, a páscoa cristã significa a
mesma coisa que a páscoa judaica, pois na judaica o povo é tirado do Egito para
seguir à terra prometida, se considerarmos que Egito aparece como lugar de
pecado e morte, notou que o cristianismo joga esses significados sobre o mundo,
de modo que em Cristo os cristãos têm acesso à terra prometida eterna. Inúmeros
símbolos são iguais, como por exemplo, a morte do primogênito, a travessia
pelas águas, etc...
Devemos considerar também que os
eventos máximos não acontecem sem preparação, de modo que a crucificação não
aconteceria sem ter havido anos (século?) de preparo. Um destes elementos mais
importantes de preparo foi o nascimento de Jesus, que está em volto de
significados muito parecido com o nascimento de Moisés, e ainda, com o nosso
problema social contemporâneo.
Moises nasce em meio a um processo
infanticida que pretendia, através da morte das crianças israelitas, diminuir a
população de descendentes de Abraão. A busca da manutenção do poder também
levou Herodes, um deles, a fazer o mesmo com as crianças de Belém, com a
finalidade de livrar-se do messias que poderia colocar em risco seus domínios
sobre aquela parte da palestina. Tudo isso não tinha função religiosa, era
apenas algo político, um processo covarde de eliminação de pessoas.
Hoje, pensando que o Natal na Bíblia
foi uma época de salvação e ao mesmo tempo de morte de milhares de crianças,
deveríamos pensar se por algum acaso não estaríamos fazendo a mesma coisa.
Bem, diria você, hoje temos o ECA (estatuto
da criança e do adolescente) que protege as crianças, temos a lei da palmada
que ainda não foi votada e ainda as bolsa famílias que dão uma força para o
pessoal carente. Onde estarão sendo mortas crianças de colo? Eu mostro:
Quando o governo não investe em
hospitais, crianças de colo e não nascidos morrem por falta de atendimento e
mesmo socorro, sem dizer a moda do erro médico de injetar coisa errada na veia
de bebês. Quando o governo não investe em geração de empregos, faz com que pais
vivam na miséria, que em si já mata muitas crianças, mas que gera o contexto
onde essa criança será morta como criminosa na adolescência, ou viverá a vida
toda fazendo mal as pessoas ou presa. Quando o governo não investe nas escolas
publicas, deixando crianças confinadas em verdadeiros chiqueiros, com professos
mal remunerados, elas não morrerão por causa disso, mas também não porão gerar
filhos com perspectivas melhores que as deles.
As igrejas ficam preocupadas com a
legalização do aborto, isso é como tirar o cisco e deixar a trave nos olhos. As
igrejas deveriam lutar pela melhoria da sociedade, pela geração de empregos,
pelo combate a corrupção e pela promoção social. Ao invés disso estão
preocupados com a vida pessoas de mulheres e adolescentes que por algum motivo
não querem ter filhos, ou ainda, lutam com o direito de homossexuais que querem
os mesmos direito que os demais cidadãos pagadores de impostos. A igreja não
tem que concordar com nada que ela não queira (teologia é um problema
institucional), mas deveria focar em coisas realmente importantes, e não nas
coisas secundárias, de modo que uma vez resolvidas as primárias, desigualdade,
injustiça e misérias, as secundárias estaria bem mais fáceis de serem
discutidas e resolvidas.
Neste sentido, o Natal é soterológico,
ou seja, o natal tem haver com salvação. Nos tempos de Moisés, salvação foi
sair da escravidão e seguir rumo a liberdade. O cristianismo foi à libertação
das garras da morte e do legalismo, em direção a vida eterna. Para nós, ele
funciona das duas maneiras, pois dever-se-ia libertar o cativo e aqueles que
estão em situação de opressão social, ao mesmo tempo que não terminamos na
materialidade, pois seguimos para uma vida eterna.
Também, o natal é kerigmatico, ou
seja, é tempo de anuncio da salvação em Cristo Jesus, pois das crianças é o
reino dos Céus, e a mensagem de cristo é anunciada a elas quando as pessoas a
sua volta experimenta os valores do reino. Muito mais importante que falar que
Jesus Salva é demonstrar o amor de Deus ao próximo, pois Deus se manifesta por
meio de nós.
Kerigma e Sotera estão intimamente
ligados. Não há anuncio sem salvação, não há salvação sem anuncio. Nada
adiantaria dizer que Deus é bom, e o povo de Israel continuar sob o julgo do
Egito, de nada adiantara dizer que Jesus salva, se não houvessem as comunidades
que se reunião como grandes família para a pratica do cuidado fraterno e da
comunhão. Por isso a igreja perde seu poder quando vira algo diferente daquilo
que ela nasceu para ser.
Natal é um tempo de preparação. Se
desejarmos um futuro melhor, devemos usar o natal como momento de valorização
da amizade, respeito, afeição, simpatia e amor (ágape) de modo que as crianças
de hoje, aprendendo isso, possa em breve ser ato do processo de mudança da
realidade. Natal é coisa de criança, assim como o futuro e a esperança...
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