segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Genética Influencia Comportamento Social de Primatas

Genética Influencia Comportamento Social de Primatas:

Genética Influencia Comportamento Social de Primatas
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Genética Influencia Comportamento Social de Primatas

Estudo de 217 espécies, inclusive o homem, mostra que estruturas sociais são bem mais difíceis de se romper do que o imaginado. Na foto: jovens bonobos se abraçam durante brincadeira em reserva no Congo



O comportamento social dos primatas -- inclusive os humanos -- possui uma base genética sólida, concluiu uma equipe de cientistas a partir de uma nova pesquisa da estrutura social na árvore genealógica dos primatas. Os cientistas da Universidade de Oxford, na Inglaterra, observaram a árvore genealógica evolutiva de 217 espécies de primatas cuja organização social é conhecida.

As descobertas foram publicadas na revista Nature e desafiam algumas das principais teorias do comportamento social, entre elas: a estrutura social é moldada pelo meio ambiente -- por exemplo, uma espécie cujo alimento está demasiado disperso talvez necessite viver em grupos grandes; que sociedades complexas evoluem gradativamente a partir das mais simples e a chamada hipótese do cérebro social, de que a inteligência e o volume do cérebro aumentam com o tamanho do grupo porque as pessoas precisam lidar com mais relacionamentos sociais.

Em contrapartida, a nova pesquisa enfatiza o papel essencial da genética no desenvolvimento de sociabilidade. Por ter origem na genética, é difícil modificar a estrutura social e as espécies precisam operar com a estrutura social herdada, seja ela qual for.

Se o comportamento social fosse moldado principalmente pela ecologia, espécies relacionadas vivendo em meio ambientes diferentes deveriam apresentar uma variedade de estruturas sociais. Os biólogos de Oxford Susanne Shultz, Christopher Opie e Quentin Atkinson, contudo, descobriram que o oposto era a verdade: as espécies de primatas tendem a ter a mesma estrutura social que seus parentes próximos, não importa como e onde vivam.

Por exemplo, primatas da espécie dos cercopitecídeos, grupo que inclui babuínos e macacos, possuem muitos habitats, desde a savana até a floresta tropical e as regiões alpinas, e podem se alimentar de frutas, folhas ou grama. Contudo, todos possuem sistemas sociais muito semelhantes, o que sugere que seu ancestral comum _ e os genes herdados que moldam o comportamento - representam uma influência mais forte do que a ecológica em sua estrutura social. "Nós estávamos tentando testar modelos aceitos de evolução social e demonstramos que nos primatas ela acontece através de processos diferentes daqueles que sempre presumimos", afirma Shultz.

Os pesquisadores sugerem que a sociabilidade surgiu há cerca de 52 milhões de anos. Os primeiros primatas buscavam segurança sendo solitários e discretos, e se deslocando apenas durante a noite. Parece que, quando as atividades passaram a ser diurnas, eles buscaram a segurança nos números.

Foi a partir desse afrouxamento, desses grupos não estruturados, que formas mais específicas de comportamento social começaram a se desenvolver nos primatas, há cerca de 16 milhões de anos. Isso incluía o vínculo de união, sistema adotado por gorilas e humanos e em grupos com vários machos e várias fêmeas, característicos de babuínos e chimpanzés.

O fato de espécies relacionadas terem estruturas sociais semelhantes, supostamente porque os genes do comportamento social são herdados de um ancestral comum "pode colocar em cheque" as explicações ecológicas, escreveu Joan B. Silk em comentário na revista Nature. Silk é especialista em primatas da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

Além disso, a descoberta de que não ocorreu um desenvolvimento estável dos grupos menores para os maiores desafia as hipóteses do cérebro social, afirmou Silk. A pesquisa da universidade confirma ser provável que a estrutura da sociedade humana também tenha uma base genética, uma vez que os seres humanos estão na família dos primatas, afirmou Bernard Chapais, especialista em evolução social humana da Universidade de Montreal. "A alteração evolutiva de qualquer linhagem é altamente limitada pela história filogenética da linhagem", afirma Chapais, referindo-se a árvore genealógica evolutiva. "O raciocínio se aplica a todas as espécies, inclusive a nossa. Contudo, nos seres humanos a variação cultural esconde a unidade social do gênero humano e a sua base biológica.

Os grupos humanos plurifamiliares podem ter surgido a partir do tipo de estrutura de harém dos gorilas, pela fusão de vários haréns, ou através de vínculos de acasalamento estáveis, substituindo a promiscuidade do tipo de sociedade dos chimpanzés, afirma Chapais.

Em seu livro "Primeval Kinship" (em tradução literal, "Parentesco primitivo", Harvard, 2008), ele descreve um estágio mais avançado da evolução social humana, quando grupos distintos aliavam-se a outros grupos com os quais eles trocavam as filhas. Os grupos com sistema de troca conjugal formavam tribos, levando a sociedade humana a um nível de organização que superava o da sociedade dos chimpanzés.

No caso dos chimpanzés, os grupos que se apoiam no aspecto territorial também trocam as filhas para evitar o incesto, mas continuam a lutar uns com os outros até a morte, porque os machos não conseguem reconhecer o parentesco com membros dos bandos vizinhos.

Fonte: The New York Times

Sigmund Freud

Sigmund Freud:

vi no do Blogs de Ciência


Freud, nascido no dia 6 de Maio de 1856 na Áustria, ficou conhecido como o “pai da psicanálise”, visto que foi ele que desenvolveu esta técnica de tratamento de desequilíbrios psicológicos, tais como, depressões; dedicou a sua vida ao estudo da mente e do espaço psico emocional do Homem.…

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Qual é o segredo da Igreja Mundial?


Texto postado no GEnizah, bem esclarecedor com respeito ao fenômeno IMPD. Alias, estou pensando em escrever um artigo sobre isso, quando tiver tempo vou publica...



Qual é o segredo da Igreja Mundial?:
Johnny Bernardo


A Igreja Mundial do Poder de Deus completará, em março de 2012, 14 anos de existência. De um grupo de 16 fieis, em pouco tempo a IMPD se transformou em uma multinacional da fé, com igrejas em quase todas as cidades do Brasil e em pelo menos treze outros países, dentre os quais Estados Unidos, Suíça, África do Sul, Filipinas e Japão.

Fundada em 1998 pelo ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Valdomiro Santiago, a IMPD possui hoje um vasto império, que conta com emissoras de rádio, TV a cabo, jornais e revistas. Seu maior investimento, entretanto, foi batizado de “Cidade Mundial” – uma área de 240 mil metros quadrados, localizada em Guarulhos, Grande São Paulo, e que conta com um galpão com capacidade para 100 mil pessoas sentadas. Para receber os visitantes, foi desenvolvida uma estrutura que conta com um restaurante, hotel e lojas de conveniências.

Concebida como um local de concentração de fieis, a “Cidade Mundial” é um protótipo para outras cidades a serem instaladas em locais estratégicos do Brasil e exterior. Além da de Guarulhos, outra esta sendo erguida no Setor 66, Goiânia, Goiás e terá capacidade para 12 mil pessoas. Quase que ao mesmo tempo, a IMPD esta construindo um mega-templo que abrigará a sede do setor de Santo Amaro e que também poderá ser usada como ponto de encontro de obreiros e realização de vigílias.

Como uma igreja de 16 membros se transformou em uma organização com tamanha dimensão? E o mais importante: como conseguiu fundos para sustentar semelhante crescimento? É o que perguntam os estudiosos do movimento. Com pouco mais de 100 anos de existência, a Assembleia de Deus ainda não conseguiu desenvolver um programa significativo na área de comunicação de massa.



Apesar do crescimento financeiro e estrutural das igrejas neopentecostais, não se pode falar em número de membros. O principal motivo é que as igrejas neopentecostais, e a IMPD é um exemplo, não possui rol de membros e as pessoas que para seus templos convergem partilham outras confissões de fé. O que não se pode negar, entretanto, é a sua capacidade de alcance, sua estratégia de crescimento que envolve métodos de marketing e sugestões psicológicas.

Das igrejas neopentecostais brasileiras, a IMPD é a que mais vem despertando atenção por parte da mídia e do meio acadêmico em geral. Quais são os seus segredos? De que maneira ela se distingue de outras igrejas concorrentes? Para compreendermos tal dimensão religiosa, é preciso voltar ao princípio, compreender de que maneira o bispo Valdomiro Santiago organizou seu próprio império.

Março de 1998

No pequeno salão da Rua São Paulo, na interiorana Sorocaba, o ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus dava inicio ao seu próprio grupo religioso. Era o mês de março. Pelo menos 16 pessoas participavam da primeira reunião da que seria a Igreja Mundial do Poder de Deus. Um sonho que começou com 16 fieis – ressalta a revista Mundial Sem Limites, ano V, setembro de 2011. A revista exibe fotos dos primeiros fieis, relatos dos que foram testemunhas oculares do surgimento da IMPD. Dona Rhute, uma das pioneiras da igreja, mostra um folheto que o ministério usava para evangelizar. O folheto, cujo título “Meu projeto de prosperidade”, dava os primeiros sinais de quais seriam as estratégias usadas pela nova igreja. A cura “milagrosa” de enfermos também já era uma realidade e seria o combustível para a expansão da IMPD.

Tamanho foi o impacto das campanhas milagrosas da Igreja Mundial, que em apenas dez anos já contava com mais de 1.000 igrejas no Brasil e exterior. De Sorocaba a sede se estabeleceu na Rua Camaleão, 439, Brás, São Paulo, num galpão com capacidade para mais de dez mil pessoas. Devido à proximidade com residências e as más condições técnicas do galpão, a IMPD enfrentou processos judiciais e teve seu templo fechado por várias vezes entre 2009 e 2011. Apesar de algumas dificuldades, a IMPD continua crescendo por todo o Brasil e o mundo. Fruto das arrecadações, Valdomiro e sua mulher exibem um estilo de vida diferente do de 13 anos atrás.


O homem que gosta de cultivar a fama de matuto mora em um condomínio de luxo em Barueri, na Grande São Paulo, e tem na garagem três carros importados blindados – uma Land Rover, um Toyota e um Peugeot. Motoristas e seguranças particulares estão sempre à sua disposição. Helicópteros e um jato particular também. A Igreja Mundial, por sua vez, tem inaugurado um novo templo por semana e honra, mensalmente, uma despesa em torno de R$ 40 milhões, revela Rodrigo Cardoso e João Loes na matéria “O homem que multiplica fieis”. [1]

O “sucesso” de Valdomiro se deve a uma série de fatores, como sua experiência como bispo e homem de confiança da Igreja Universal do Reino de Deus, sua ênfase em “cura divina” e Teologia da Prosperidade. Outra receita é o seu investimento maciço em meios de comunicação de massa, herança de sua experiência como apresentador de programas da IURD na Rede Record. Sua presença na mídia televisiva passou a ser uma realidade a partir de 2008, quando aluga 22 horas da Rede 21, propriedade do Grupo Bandeirantes. Um ano depois adquire espaço no horário nobre da Rede TV, e em 2011 assumiria o espaço antes cedido ao programa Vitória em Cristo, exibido nas madrugas de sábado na Band. Na CNT, um novo episódio: paga mais e tira do ar seu concorrente, o missionário R.R. Soares.

Problemas

O “sucesso” da Igreja Mundial do Poder de Deus seria completo não fosse alguns problemas, como a crise envolvendo seu templo do Brás com a Prefeitura de São Paulo, a dissidência de bispos, denúncias de lavagem de dinheiro e a suspeita de envolvimento (de alguns bispos) com o narcotráfico. A suspeita ganhou força com a prisão, em março de 2010, de três bispos da IMPD que ao retornar de Corumbá (MS) foram surpreendidos por uma operação da Polícia Rodoviária Federal. Abordados na cidade de Mirandia (MS), foram encontradas sete armas de fogo, de fabricação norteamericana, num fundo falso das portas dianteira e traseira de um veiculo que dois dos três bispos conduziam. Um terceiro bispo seria preso horas depois, em sua residência no bairro Nova Bandeirantes. O destino da quadrilha seria Niterói (RJ), de onde as armas seriam distribuídas para traficantes da região. Questionado, Valdomiro Santiago disse não "conhecer os envolvidos."

Nota

1. ISTOÉ, edição 2151, janeiro de 2011


Johnny Bernardo é jornalista, pesquisador da
religiosidade brasileira e colaborador do Genizah







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O que aprendi com o pior jornalista do mundo - ÉPOCA | Eliane Brum

O que aprendi com o pior jornalista do mundo - ÉPOCA | Eliane Brum:


Um texto bem interessante para começar o ano, principalmente porque não existe lugar mais maniqueísta do que o jornalismo. Vale a reflexão

O que aprendi com o pior jornalista do mundo

Somos livres para escolher o mal? Somos livres para escolher o bem? Uma pequena reflexão sobre o livre arbítrio a partir do encontro com um personagem real que parece saído da literatura

ELIANE BRUM

Na primavera de 2000, entrou na minha vida um personagem da literatura. Um repórter de um jornal europeu me procurou, por intermédio de uma colega, porque viria ao Brasil e queria fazer uma reportagem sobre prostituição infantil. Expliquei a ele que, para fazer algo que valesse a pena nessa área, ele precisaria de tempo e bastante trabalho. Por considerar a pauta relevante e uma repercussão no exterior importante, abri todas as minhas fontes e fiz contatos com outros jornalistas que trabalhavam com o tema em capitais nordestinas. Fiz, praticamente, uma pré-produção para que ele pudesse fazer a reportagem quando chegasse ao país. Mas ele não a fez. Passou uma semana entre São Paulo e Rio de Janeiro e, para meu espanto, publicou em seu jornal uma reportagem sobre meninas leiloadas em jogos no centro-oeste do Brasil, onde jamais havia colocado os pés. Não precisei investigar. O próprio jornalista me contou que havia copiado um texto publicado anos antes em um jornal do interior daquela região como se fosse seu. Segundo ele, com a anuência do autor. Publicou como se fosse o retrato do momento e como se tivesse estado lá.

Eu sabia que coisas assim aconteciam mesmo na melhor – e às vezes entojada – imprensa europeia. Mas jamais testemunhara. Até então eu e o jornalista nunca tínhamos nos visto. Fiquei tão indignada que marquei um encontro para dizer o que pensava olhando na sua cara. Quando cheguei ao bar, ele já estava lá, no longo balcão. Tinha em torno de 50 anos, talvez menos, um físico de mercenário e os olhos mais azuis que eu já tinha visto. Pedi uma taça de vinho e fiz de imediato o que tinha ido fazer. Disse que gente como ele fazia mal não só ao jornalismo, mas ao mundo. E que conhecê-lo tinha sido um desprazer.

O jornalista me ouviu como se eu estivesse contando o enredo de uma comédia romântica. Me provocou, com um sorriso de Humphrey Bogart: “Então, você sempre faz o que é certo?”. Em seguida, me contou que na guerra do Golfo foi tirado do banho do hotel, em Paris, para dar um boletim ao vivo na rádio – e deu, descrevendo a violência que não transcorria diante dos seus olhos. Enquanto o vinho encolhia na garrafa, ele foi desfiando uma longa lista de pecados jornalísticos. Acho que no início queria apenas me chocar, por me considerar uma espécie de virgem da imprensa dos trópicos. Aos poucos, porém, foi trocando a ironia pela amargura. E começou a parecer um homem perigoso de outras maneiras.

Nesta altura, algum leitor pode estar se perguntando por que eu permaneci lá, sentada ao seu lado. É uma boa pergunta. Acho que fiquei porque aquele personagem me fascinava. Ele parecia saído da literatura – e era da vida. E manipulava a vida real que deveria contar. Em certo momento, voltei a habitar o meu corpo e disse que sentia um profundo desprezo por pessoas como ele e que o mundo seria melhor se ele mudasse de profissão. E que, sim, estava na hora de eu ir embora.

Ele então me olhou com aqueles olhos quase transparentes e disse:

- Vou te fazer uma proposta. Só por um dia, eu vou fazer o bem desde o momento em que acordar até a hora de dormir. Em troca, você vai fazer o mal em todas as oportunidades. Amanhã, um dia apenas, viveremos este pacto.

(Pare de ler por um momento, agora, e pense por pelo menos um minuto nessa proposta, como se ela fosse feita a você. Pense com a mente aberta e com a honestidade que só temos com nós mesmos, na sala privada, trancada à chave, de nossas reflexões secretas.)

Disfarçando meu desconcerto, respondi que ele soava como um péssimo Mefistófeles e que seria um ator ainda pior do que era jornalista. Pagamos a conta, e o vi desaparecer na escuridão da rua. Naquele momento, ao vê-lo meio curvado e atormentado sobre o próprio corpo, ele parecia mais o Mister Hyde, de Stevenson, do que o personagem imortalizado por Goethe. Peguei um táxi e fui para casa. Naquela época eu morava sozinha e passei a noite de olhos estalados sobre a cama feita. Ele tinha me perturbado.

Enquanto atravessava a madrugada em uma espécie de transe, eu imaginava como seria levantar no dia seguinte e escolher fazer o mal. Nada muito complexo e com muitas nuances, apenas o mal mais trivial. O que talvez pudéssemos chamar de pequeno mal, amplamente praticado e pouco confessado. Chutar em vez de acariciar o gato, apontar o bigode que a colega de trabalho descoloria no esforço de que ninguém o descobrisse ou a calvície que um amigo se esforçava por disfarçar, humilhar os que estavam abaixo na hierarquia, disseminar comentários cruéis sempre que tivesse oportunidade. Por escolha.

Era como se embriagar de liberdade. É claro que, como todo mundo, eu já havia praticado pequenos atos de maldade. Mas raramente como opção consciente. Em geral meu histórico de maldades, maior na infância e na juventude, contém deslizes e omissões – seguidas por um sentimento de culpa que me impingia bolas de ferro no espírito ao perceber o que havia feito. Pensar que eu podia escolher fazer o mal era algo perturbadoramente sedutor.

No dia seguinte, entorpecida de sono, eu já sabia que seguiria tentando ser a melhor versão de mim mesma. Mas jamais me esqueci desta história – e da inquietação com que ela me assinalou. “Olhos Azuis” – é assim que eu chamo esse enigmático personagem que assaltou meu sossego numa noite da primavera de 2000 – me fez enxergar algo sobre mim. Não algo como tema de um debate filosófico, onde as palavras nem sempre se sujam com as tripas, mas algo como uma possibilidade encarnada na vida. Suas palavras deformadas me deram um vislumbre da liberdade. E eu corri dela o mais rápido que pude.

Eu soube ali que não poderia escolher praticar o mal. Eu só poderia escolher praticar o bem – o que implica descobrir a cada passo o que isso significa. Se eu não sou livre para escolher praticar o mal, então eu seria livre para escolher praticar o bem? Não. Ou há escolha – ou não há escolha. Não pode haver escolha só para um lado. Desde então, marco esta noite como aquela em que eu perdi a ilusão da liberdade graças a um dos piores jornalistas de todos os tempos.

Penso que nossa liberdade é limitada e que, como dizia Nietzsche, o livre arbítrio não existe. Explico, do meu jeito. Temos arbítrio, mas ele está longe de ser totalmente livre. Cada escolha nossa é não só baseada em prós e contras, mas também em influências externas e internas. No lado de fora, a cultura e os valores da época em quem vivemos, o meio onde nascemos e onde nos fizemos adultos, os desafios materiais que a sobrevivência nos impõe. No interior, nosso vasto inconsciente nebuloso, nossas pulsões, o dentro que está além do nosso controle.

Nosso estar no mundo – e em nós mesmos – elimina a possibilidade do livre arbítrio. Mas a imperfeição desta liberdade não nos absolve do arbítrio. Se, ao contrário, caíssemos no outro extremo, o de que nossas escolhas são totalmente determinadas pela cultura ou pela genética ou pelas nossas necessidades de fins que permitem todos os meios, nos colocaríamos além de qualquer responsabilização. Seríamos como marionetes de uma guerra de desrazão por almas que não temos.

Como aquelas pessoas que bochecham a boca com o discurso da liberdade de prateleira e, sempre que possível, responsabilizam o chefe pelo mal que fazem, com a justificativa de que estão cumprindo ordens. Delegam a responsabilidade pelos seus atos, quando mesmo o mais cativo entre nós ainda tem uma estreita margem de escolha. Nossa vizinhança está cheia de gente como Adolf Eichmann, o oficial nazista responsável pela logística do extermínio dos judeus. Em seu julgamento, o nazista surpreendeu o mundo porque, em vez de um monstro sanguinário, se revelou um humano medíocre e mais semelhante do que diferente daqueles que o assistiam. O episódio foi analisado com brilhantismo por Hannah Arendt em “Eichmann em Jerusalém – um relato sobre a banalidade do mal” (Companhia das Letras).

Penso que a resposta não está nos extremos. Se a liberdade é tão fugidia que nos escapa a cada momento, maior deve ser a nossa ânsia de buscá-la. Desde que Olhos Azuis tentou me provar que eu tinha tão pouca escolha de fazer o bem quanto ele de praticar o mal, ainda que nossos imperativos fossem opostos, passei a perseguir com muito mais empenho um jeito de viver que tornasse minhas escolhas mais minhas, mesmo sabendo que jamais serão totalmente minhas.

Quando tratamos a liberdade como um bem adquirido ou um direito consolidado, penso que corremos o risco de perdê-la lá onde ela efetivamente está: nas bordas. Se a aceitamos como mercadoria – como uma velha calça azul e desbotada, ainda que novíssima, com rasgões de fábrica e com uma etiqueta que lhe multiplica o preço – nos perdemos dela porque deixamos de procurá-la. Quanto mais fácil e dada a liberdade está, mais nos afastamos dela.

A liberdade é uma coisa séria – e muito mais séria é porque jamais a teremos por completo. Ao contrário do que Olhos Azuis insinuou, a liberdade não se torna algo menor porque inalcançável – mas maior e mais vital porque nos escapa. A liberdade exige – e cobra – nossos melhores esforços.

Penso que a melhor forma de tornar nossas escolhas mais nossas é também a mais difícil: duvidar o tempo todo de nossas certezas. Duvidar de nossos porquês mais óbvios. De nossa rotina estabelecida, de nossos velhos hábitos, de afirmações como “eu sou assim” ou “fulano nunca vai mudar”. Duvidar de que a vida tenha de ser de uma determinada maneira ou de outra. Duvidar de nossas crenças mais profundas, duvidar de nossas necessidades de consumo. Duvidar de que não exista um outro jeito de viver nem um outro mundo melhor que este a ser construído. Duvidar de gente que diz que está fazendo algo para o nosso bem. E mais ainda se essas pessoas estão em lugar de poder. Duvidar quando a gente diz que está fazendo algo para o bem do outro. Assim como a liberdade, o bem não tem respostas óbvias.

Duvidar não é um exercício fácil. É um ato de resistência internamente tão exaustivo – e tão perigoso – quanto atravessar o Atlântico num barco a remo. Escolher duvidar como caminho para alargar nosso estreito espaço de liberdade é uma boa meta para 2012. Só os escravos de espírito têm certezas de concreto armado. Quem anseia pela liberdade, ainda que imperfeita, escolhe tornar-se um colecionador de dúvidas.

Com o passar dos anos, Olhos Azuis foi perdendo sua aura de personagem clássico da literatura em minha memória. Bem aos poucos, ele tornou-se uma figura triste, quase patética. Que, como muitas figuras tristes, quase patéticas, tinha um bom emprego e o pequeno poder de mentir em larga escala. Nunca mais ouvi falar no seu nome. Mas sou grata a ele por ter me arrancado algumas certezas. Ao escolher duvidar dele e de mim, simultaneamente, acessei uma experiência mais profunda. Escolher o que fazer com nossas lembranças é um flerte com a liberdade. É arbítrio, quase livre.

(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.)