segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

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Assista até o fim e veja a mensagem final...

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Qual é o segredo da Igreja Mundial?


Texto postado no GEnizah, bem esclarecedor com respeito ao fenômeno IMPD. Alias, estou pensando em escrever um artigo sobre isso, quando tiver tempo vou publica...



Qual é o segredo da Igreja Mundial?:
Johnny Bernardo


A Igreja Mundial do Poder de Deus completará, em março de 2012, 14 anos de existência. De um grupo de 16 fieis, em pouco tempo a IMPD se transformou em uma multinacional da fé, com igrejas em quase todas as cidades do Brasil e em pelo menos treze outros países, dentre os quais Estados Unidos, Suíça, África do Sul, Filipinas e Japão.

Fundada em 1998 pelo ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Valdomiro Santiago, a IMPD possui hoje um vasto império, que conta com emissoras de rádio, TV a cabo, jornais e revistas. Seu maior investimento, entretanto, foi batizado de “Cidade Mundial” – uma área de 240 mil metros quadrados, localizada em Guarulhos, Grande São Paulo, e que conta com um galpão com capacidade para 100 mil pessoas sentadas. Para receber os visitantes, foi desenvolvida uma estrutura que conta com um restaurante, hotel e lojas de conveniências.

Concebida como um local de concentração de fieis, a “Cidade Mundial” é um protótipo para outras cidades a serem instaladas em locais estratégicos do Brasil e exterior. Além da de Guarulhos, outra esta sendo erguida no Setor 66, Goiânia, Goiás e terá capacidade para 12 mil pessoas. Quase que ao mesmo tempo, a IMPD esta construindo um mega-templo que abrigará a sede do setor de Santo Amaro e que também poderá ser usada como ponto de encontro de obreiros e realização de vigílias.

Como uma igreja de 16 membros se transformou em uma organização com tamanha dimensão? E o mais importante: como conseguiu fundos para sustentar semelhante crescimento? É o que perguntam os estudiosos do movimento. Com pouco mais de 100 anos de existência, a Assembleia de Deus ainda não conseguiu desenvolver um programa significativo na área de comunicação de massa.



Apesar do crescimento financeiro e estrutural das igrejas neopentecostais, não se pode falar em número de membros. O principal motivo é que as igrejas neopentecostais, e a IMPD é um exemplo, não possui rol de membros e as pessoas que para seus templos convergem partilham outras confissões de fé. O que não se pode negar, entretanto, é a sua capacidade de alcance, sua estratégia de crescimento que envolve métodos de marketing e sugestões psicológicas.

Das igrejas neopentecostais brasileiras, a IMPD é a que mais vem despertando atenção por parte da mídia e do meio acadêmico em geral. Quais são os seus segredos? De que maneira ela se distingue de outras igrejas concorrentes? Para compreendermos tal dimensão religiosa, é preciso voltar ao princípio, compreender de que maneira o bispo Valdomiro Santiago organizou seu próprio império.

Março de 1998

No pequeno salão da Rua São Paulo, na interiorana Sorocaba, o ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus dava inicio ao seu próprio grupo religioso. Era o mês de março. Pelo menos 16 pessoas participavam da primeira reunião da que seria a Igreja Mundial do Poder de Deus. Um sonho que começou com 16 fieis – ressalta a revista Mundial Sem Limites, ano V, setembro de 2011. A revista exibe fotos dos primeiros fieis, relatos dos que foram testemunhas oculares do surgimento da IMPD. Dona Rhute, uma das pioneiras da igreja, mostra um folheto que o ministério usava para evangelizar. O folheto, cujo título “Meu projeto de prosperidade”, dava os primeiros sinais de quais seriam as estratégias usadas pela nova igreja. A cura “milagrosa” de enfermos também já era uma realidade e seria o combustível para a expansão da IMPD.

Tamanho foi o impacto das campanhas milagrosas da Igreja Mundial, que em apenas dez anos já contava com mais de 1.000 igrejas no Brasil e exterior. De Sorocaba a sede se estabeleceu na Rua Camaleão, 439, Brás, São Paulo, num galpão com capacidade para mais de dez mil pessoas. Devido à proximidade com residências e as más condições técnicas do galpão, a IMPD enfrentou processos judiciais e teve seu templo fechado por várias vezes entre 2009 e 2011. Apesar de algumas dificuldades, a IMPD continua crescendo por todo o Brasil e o mundo. Fruto das arrecadações, Valdomiro e sua mulher exibem um estilo de vida diferente do de 13 anos atrás.


O homem que gosta de cultivar a fama de matuto mora em um condomínio de luxo em Barueri, na Grande São Paulo, e tem na garagem três carros importados blindados – uma Land Rover, um Toyota e um Peugeot. Motoristas e seguranças particulares estão sempre à sua disposição. Helicópteros e um jato particular também. A Igreja Mundial, por sua vez, tem inaugurado um novo templo por semana e honra, mensalmente, uma despesa em torno de R$ 40 milhões, revela Rodrigo Cardoso e João Loes na matéria “O homem que multiplica fieis”. [1]

O “sucesso” de Valdomiro se deve a uma série de fatores, como sua experiência como bispo e homem de confiança da Igreja Universal do Reino de Deus, sua ênfase em “cura divina” e Teologia da Prosperidade. Outra receita é o seu investimento maciço em meios de comunicação de massa, herança de sua experiência como apresentador de programas da IURD na Rede Record. Sua presença na mídia televisiva passou a ser uma realidade a partir de 2008, quando aluga 22 horas da Rede 21, propriedade do Grupo Bandeirantes. Um ano depois adquire espaço no horário nobre da Rede TV, e em 2011 assumiria o espaço antes cedido ao programa Vitória em Cristo, exibido nas madrugas de sábado na Band. Na CNT, um novo episódio: paga mais e tira do ar seu concorrente, o missionário R.R. Soares.

Problemas

O “sucesso” da Igreja Mundial do Poder de Deus seria completo não fosse alguns problemas, como a crise envolvendo seu templo do Brás com a Prefeitura de São Paulo, a dissidência de bispos, denúncias de lavagem de dinheiro e a suspeita de envolvimento (de alguns bispos) com o narcotráfico. A suspeita ganhou força com a prisão, em março de 2010, de três bispos da IMPD que ao retornar de Corumbá (MS) foram surpreendidos por uma operação da Polícia Rodoviária Federal. Abordados na cidade de Mirandia (MS), foram encontradas sete armas de fogo, de fabricação norteamericana, num fundo falso das portas dianteira e traseira de um veiculo que dois dos três bispos conduziam. Um terceiro bispo seria preso horas depois, em sua residência no bairro Nova Bandeirantes. O destino da quadrilha seria Niterói (RJ), de onde as armas seriam distribuídas para traficantes da região. Questionado, Valdomiro Santiago disse não "conhecer os envolvidos."

Nota

1. ISTOÉ, edição 2151, janeiro de 2011


Johnny Bernardo é jornalista, pesquisador da
religiosidade brasileira e colaborador do Genizah







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O que aprendi com o pior jornalista do mundo - ÉPOCA | Eliane Brum

O que aprendi com o pior jornalista do mundo - ÉPOCA | Eliane Brum:


Um texto bem interessante para começar o ano, principalmente porque não existe lugar mais maniqueísta do que o jornalismo. Vale a reflexão

O que aprendi com o pior jornalista do mundo

Somos livres para escolher o mal? Somos livres para escolher o bem? Uma pequena reflexão sobre o livre arbítrio a partir do encontro com um personagem real que parece saído da literatura

ELIANE BRUM

Na primavera de 2000, entrou na minha vida um personagem da literatura. Um repórter de um jornal europeu me procurou, por intermédio de uma colega, porque viria ao Brasil e queria fazer uma reportagem sobre prostituição infantil. Expliquei a ele que, para fazer algo que valesse a pena nessa área, ele precisaria de tempo e bastante trabalho. Por considerar a pauta relevante e uma repercussão no exterior importante, abri todas as minhas fontes e fiz contatos com outros jornalistas que trabalhavam com o tema em capitais nordestinas. Fiz, praticamente, uma pré-produção para que ele pudesse fazer a reportagem quando chegasse ao país. Mas ele não a fez. Passou uma semana entre São Paulo e Rio de Janeiro e, para meu espanto, publicou em seu jornal uma reportagem sobre meninas leiloadas em jogos no centro-oeste do Brasil, onde jamais havia colocado os pés. Não precisei investigar. O próprio jornalista me contou que havia copiado um texto publicado anos antes em um jornal do interior daquela região como se fosse seu. Segundo ele, com a anuência do autor. Publicou como se fosse o retrato do momento e como se tivesse estado lá.

Eu sabia que coisas assim aconteciam mesmo na melhor – e às vezes entojada – imprensa europeia. Mas jamais testemunhara. Até então eu e o jornalista nunca tínhamos nos visto. Fiquei tão indignada que marquei um encontro para dizer o que pensava olhando na sua cara. Quando cheguei ao bar, ele já estava lá, no longo balcão. Tinha em torno de 50 anos, talvez menos, um físico de mercenário e os olhos mais azuis que eu já tinha visto. Pedi uma taça de vinho e fiz de imediato o que tinha ido fazer. Disse que gente como ele fazia mal não só ao jornalismo, mas ao mundo. E que conhecê-lo tinha sido um desprazer.

O jornalista me ouviu como se eu estivesse contando o enredo de uma comédia romântica. Me provocou, com um sorriso de Humphrey Bogart: “Então, você sempre faz o que é certo?”. Em seguida, me contou que na guerra do Golfo foi tirado do banho do hotel, em Paris, para dar um boletim ao vivo na rádio – e deu, descrevendo a violência que não transcorria diante dos seus olhos. Enquanto o vinho encolhia na garrafa, ele foi desfiando uma longa lista de pecados jornalísticos. Acho que no início queria apenas me chocar, por me considerar uma espécie de virgem da imprensa dos trópicos. Aos poucos, porém, foi trocando a ironia pela amargura. E começou a parecer um homem perigoso de outras maneiras.

Nesta altura, algum leitor pode estar se perguntando por que eu permaneci lá, sentada ao seu lado. É uma boa pergunta. Acho que fiquei porque aquele personagem me fascinava. Ele parecia saído da literatura – e era da vida. E manipulava a vida real que deveria contar. Em certo momento, voltei a habitar o meu corpo e disse que sentia um profundo desprezo por pessoas como ele e que o mundo seria melhor se ele mudasse de profissão. E que, sim, estava na hora de eu ir embora.

Ele então me olhou com aqueles olhos quase transparentes e disse:

- Vou te fazer uma proposta. Só por um dia, eu vou fazer o bem desde o momento em que acordar até a hora de dormir. Em troca, você vai fazer o mal em todas as oportunidades. Amanhã, um dia apenas, viveremos este pacto.

(Pare de ler por um momento, agora, e pense por pelo menos um minuto nessa proposta, como se ela fosse feita a você. Pense com a mente aberta e com a honestidade que só temos com nós mesmos, na sala privada, trancada à chave, de nossas reflexões secretas.)

Disfarçando meu desconcerto, respondi que ele soava como um péssimo Mefistófeles e que seria um ator ainda pior do que era jornalista. Pagamos a conta, e o vi desaparecer na escuridão da rua. Naquele momento, ao vê-lo meio curvado e atormentado sobre o próprio corpo, ele parecia mais o Mister Hyde, de Stevenson, do que o personagem imortalizado por Goethe. Peguei um táxi e fui para casa. Naquela época eu morava sozinha e passei a noite de olhos estalados sobre a cama feita. Ele tinha me perturbado.

Enquanto atravessava a madrugada em uma espécie de transe, eu imaginava como seria levantar no dia seguinte e escolher fazer o mal. Nada muito complexo e com muitas nuances, apenas o mal mais trivial. O que talvez pudéssemos chamar de pequeno mal, amplamente praticado e pouco confessado. Chutar em vez de acariciar o gato, apontar o bigode que a colega de trabalho descoloria no esforço de que ninguém o descobrisse ou a calvície que um amigo se esforçava por disfarçar, humilhar os que estavam abaixo na hierarquia, disseminar comentários cruéis sempre que tivesse oportunidade. Por escolha.

Era como se embriagar de liberdade. É claro que, como todo mundo, eu já havia praticado pequenos atos de maldade. Mas raramente como opção consciente. Em geral meu histórico de maldades, maior na infância e na juventude, contém deslizes e omissões – seguidas por um sentimento de culpa que me impingia bolas de ferro no espírito ao perceber o que havia feito. Pensar que eu podia escolher fazer o mal era algo perturbadoramente sedutor.

No dia seguinte, entorpecida de sono, eu já sabia que seguiria tentando ser a melhor versão de mim mesma. Mas jamais me esqueci desta história – e da inquietação com que ela me assinalou. “Olhos Azuis” – é assim que eu chamo esse enigmático personagem que assaltou meu sossego numa noite da primavera de 2000 – me fez enxergar algo sobre mim. Não algo como tema de um debate filosófico, onde as palavras nem sempre se sujam com as tripas, mas algo como uma possibilidade encarnada na vida. Suas palavras deformadas me deram um vislumbre da liberdade. E eu corri dela o mais rápido que pude.

Eu soube ali que não poderia escolher praticar o mal. Eu só poderia escolher praticar o bem – o que implica descobrir a cada passo o que isso significa. Se eu não sou livre para escolher praticar o mal, então eu seria livre para escolher praticar o bem? Não. Ou há escolha – ou não há escolha. Não pode haver escolha só para um lado. Desde então, marco esta noite como aquela em que eu perdi a ilusão da liberdade graças a um dos piores jornalistas de todos os tempos.

Penso que nossa liberdade é limitada e que, como dizia Nietzsche, o livre arbítrio não existe. Explico, do meu jeito. Temos arbítrio, mas ele está longe de ser totalmente livre. Cada escolha nossa é não só baseada em prós e contras, mas também em influências externas e internas. No lado de fora, a cultura e os valores da época em quem vivemos, o meio onde nascemos e onde nos fizemos adultos, os desafios materiais que a sobrevivência nos impõe. No interior, nosso vasto inconsciente nebuloso, nossas pulsões, o dentro que está além do nosso controle.

Nosso estar no mundo – e em nós mesmos – elimina a possibilidade do livre arbítrio. Mas a imperfeição desta liberdade não nos absolve do arbítrio. Se, ao contrário, caíssemos no outro extremo, o de que nossas escolhas são totalmente determinadas pela cultura ou pela genética ou pelas nossas necessidades de fins que permitem todos os meios, nos colocaríamos além de qualquer responsabilização. Seríamos como marionetes de uma guerra de desrazão por almas que não temos.

Como aquelas pessoas que bochecham a boca com o discurso da liberdade de prateleira e, sempre que possível, responsabilizam o chefe pelo mal que fazem, com a justificativa de que estão cumprindo ordens. Delegam a responsabilidade pelos seus atos, quando mesmo o mais cativo entre nós ainda tem uma estreita margem de escolha. Nossa vizinhança está cheia de gente como Adolf Eichmann, o oficial nazista responsável pela logística do extermínio dos judeus. Em seu julgamento, o nazista surpreendeu o mundo porque, em vez de um monstro sanguinário, se revelou um humano medíocre e mais semelhante do que diferente daqueles que o assistiam. O episódio foi analisado com brilhantismo por Hannah Arendt em “Eichmann em Jerusalém – um relato sobre a banalidade do mal” (Companhia das Letras).

Penso que a resposta não está nos extremos. Se a liberdade é tão fugidia que nos escapa a cada momento, maior deve ser a nossa ânsia de buscá-la. Desde que Olhos Azuis tentou me provar que eu tinha tão pouca escolha de fazer o bem quanto ele de praticar o mal, ainda que nossos imperativos fossem opostos, passei a perseguir com muito mais empenho um jeito de viver que tornasse minhas escolhas mais minhas, mesmo sabendo que jamais serão totalmente minhas.

Quando tratamos a liberdade como um bem adquirido ou um direito consolidado, penso que corremos o risco de perdê-la lá onde ela efetivamente está: nas bordas. Se a aceitamos como mercadoria – como uma velha calça azul e desbotada, ainda que novíssima, com rasgões de fábrica e com uma etiqueta que lhe multiplica o preço – nos perdemos dela porque deixamos de procurá-la. Quanto mais fácil e dada a liberdade está, mais nos afastamos dela.

A liberdade é uma coisa séria – e muito mais séria é porque jamais a teremos por completo. Ao contrário do que Olhos Azuis insinuou, a liberdade não se torna algo menor porque inalcançável – mas maior e mais vital porque nos escapa. A liberdade exige – e cobra – nossos melhores esforços.

Penso que a melhor forma de tornar nossas escolhas mais nossas é também a mais difícil: duvidar o tempo todo de nossas certezas. Duvidar de nossos porquês mais óbvios. De nossa rotina estabelecida, de nossos velhos hábitos, de afirmações como “eu sou assim” ou “fulano nunca vai mudar”. Duvidar de que a vida tenha de ser de uma determinada maneira ou de outra. Duvidar de nossas crenças mais profundas, duvidar de nossas necessidades de consumo. Duvidar de que não exista um outro jeito de viver nem um outro mundo melhor que este a ser construído. Duvidar de gente que diz que está fazendo algo para o nosso bem. E mais ainda se essas pessoas estão em lugar de poder. Duvidar quando a gente diz que está fazendo algo para o bem do outro. Assim como a liberdade, o bem não tem respostas óbvias.

Duvidar não é um exercício fácil. É um ato de resistência internamente tão exaustivo – e tão perigoso – quanto atravessar o Atlântico num barco a remo. Escolher duvidar como caminho para alargar nosso estreito espaço de liberdade é uma boa meta para 2012. Só os escravos de espírito têm certezas de concreto armado. Quem anseia pela liberdade, ainda que imperfeita, escolhe tornar-se um colecionador de dúvidas.

Com o passar dos anos, Olhos Azuis foi perdendo sua aura de personagem clássico da literatura em minha memória. Bem aos poucos, ele tornou-se uma figura triste, quase patética. Que, como muitas figuras tristes, quase patéticas, tinha um bom emprego e o pequeno poder de mentir em larga escala. Nunca mais ouvi falar no seu nome. Mas sou grata a ele por ter me arrancado algumas certezas. Ao escolher duvidar dele e de mim, simultaneamente, acessei uma experiência mais profunda. Escolher o que fazer com nossas lembranças é um flerte com a liberdade. É arbítrio, quase livre.

(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.)

domingo, 1 de janeiro de 2012

Beija-Flores e abelhas bem de perto...





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Fim do mundo em 2012

vi no Pavablog....

Fim do mundo em 2012:

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Paula Rocha, Flávio Costa e João Loes, na IstoÉ


Aos 71 anos, o relojoeiro aposentado Tikao Tanaka passa seus dias contando as horas que lhe restam até o mundo acabar. O senhor de gestos contidos e sorriso tímido, natural da cidade de Guararapes, no interior de São Paulo, diz estar se preparando para o fim dos tempos, marcado para o dia 21 de dezembro de 2012. Junto de sua família, Tanaka comprou uma propriedade de 20 mil metros quadrados no município de Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros, um dos poucos lugares, que, segundo ele, serão preservados após um tsunami devastar a costa brasileira no dia fatídico. “Quando a hora chegar, vou me mudar para lá de vez”, diz. Acreditando na mesma teo­ria apocalíptica, a irmã e o cunhado do relojoeiro já estão na cidade goiana há pelo menos três meses.


“A gente fala para as pessoas sobre o que vai acontecer, principalmente para os amigos, mas nem todo mundo acredita”, afirma. Tanaka é um dos seguidores de Masuteru Hirota, 69 anos, mais conhecido como professor Hirota. Japonês da cidade de Kochi, ele é um misto de vidente, pretenso guru espiritual e curandeiro que há 35 anos mantém em Atibaia (SP) uma espécie de casa de tratamento – o Lar Lokkon Shôjo, ou Seis Raízes Puras –, onde oferece cura para dezenas de pessoas. Segundo Hirota, em 2012 um tsunami de proporções gigantescas atingirá 80% da superfície terrestre e levará à morte mais de seis bilhões de pessoas. Praticamente toda a costa brasileira será tragada, deixando livre apenas uma pequena porção que engloba partes de Goiás, Mato Grosso e Tocantins. No resto do mundo, somente regiões centrais da África e da Ásia resistirão. Quanto à América do Norte e Europa, não há esperança. “O fim já começou”, alerta o guru.


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CRENÇA

Jairo Pontes, de Alphaville (com a mulher, Maria Isabel,

e os filhos), acredita no juízo final entre 2028 e 2036


A exemplo dos discípulos do professor Hirota, muita gente acredita que o mundo pode acabar em 2012. Ou pelo menos que catástrofes e tragédias de proporções nunca antes vistas estão marcadas para ocorrer no próximo ano, mais especificamente no dia 21 de dezembro. A data, que assinala o fim do calendário solar dos maias – uma das mais importantes civilizações pré-colombianas –, levantou toda sorte de teorias apocalípticas e desencadeou um fenômeno cuja magnitude se compara aos desastres previstos. Segundo um relatório da “Missão Interministerial de Luta contra Seitas” (Miviludes), da França, foram registrados mais de 2,5 milhões de sites que propagam profecias sobre 2012. Já existe até uma rede social exclusiva para aqueles que acreditam nas teorias fatalistas e desejam se preparar para o dia final. Chamado “2012 Connect”, o portal conta com mais de 1,5 mil membros. O site da Nasa (Agência Espacial Americana) recebeu nos últimos três anos milhares de mensagens de pessoas desesperadas para saber se há possibilidade de o mundo acabar em breve. Seitas que aguardam o fim dos dias se proliferam em vários cantos do planeta e até o governo do México, região onde viveram os maias, quer tirar proveito da febre do fim do mundo. As cidades que conservam as ruínas da antiga civilização devem receber 52 milhões de turistas em 2012, 30 milhões a mais do que o habitual.


Aqui no Brasil, em Alto Paraíso, o município que, segundo Hirota, deverá sair ileso das catástrofes, os efeitos da especulação imobiliária causada pelo apocalipse já podem ser sentidos. Pelo menos duas dezenas de seguidores do autointitulado guru – a maioria descendentes de japoneses – já compraram casas e terrenos na cidade de nome celestial, também conhecida como a “Capital Brasileira do Terceiro Milênio”, dada a quantidade de adeptos dos mais diversos esoterismos que acorrem para lá. “E há mais 47 interessados em comprar imóveis aqui por causa do fim do mundo”, diz Milton Silva, gerente da imobiliária Kalunga Imóveis, que atua na região. “Esperamos que ocorra em 2012 o mesmo boom de turistas que vieram para cá na virada de 1999 para 2000”, diz Fernando Couto, secretário de Turismo de Alto Paraíso. “Sei que já há quartos alugados em pousadas para o dia 21 de dezembro, mas até essa data vere­mos o número de visitantes aumentar.”


Mais ao Sul do País, na cidade de Porto Belo, em Santa Catarina, a migração de turistas é motivada por uma seita chamada “Movimento Salvai Almas”, fundada em 1997 pelo aposentado Cláudio Heckert, 66 anos. Católico e pai de sete filhos, Heckert diz receber mensagens de Nossa Senhora constantemente, entre elas um alerta de que o mundo passará por uma terceira guerra mundial em maio de 2012. “Três bombas nucleares serão detonadas”, diz Arnaldo Haas, porta-voz do grupo, que garante ter respaldo bíblico para todas as previsões que chegam de Maria, mãe de Jesus, através de Heckert. Segundo o suposto profeta, quem sobreviver à hecatombe atômica terá ainda de escapar da queda de uma estrela, em setembro, e do juízo final, marcado para 25 de dezembro do mesmo ano. “Será rápido e fulminante, mas os filhos de Deus não têm o que temer”, diz Haas. Confiantes, os membros do movimento nem irão se preparar para a tragédia. “Quando a hora chegar”, diz Haas, “Deus garantirá proteção e multiplicará, apenas para os fiéis, provisões como alimentos e água.”


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Contar com o auxílio divino no momento final, no entanto, não tem sido o suficiente para todos que esperam terremotos, tsunamis e outras calamidades em 2012. O americano Dennis McClung, morador da cidade de Phoenix, no Arizona, ganhou fama por transformar a casa em que vive com a mulher, Danielle, e os filhos, Caden, 4 anos, e Vedah, 2, num verdadeiro refúgio antiapocalipse. Desde 2009 a família se prepara para uma possível explosão solar em 2012, que comprometeria o funcionamento de serviços básicos como luz, água e comunicações aqui na Terra. “Se os Estados Unidos saírem do ar por causa de uma explosão solar, todos terão apenas alguns dias de água, pouca comida e em uma semana viveremos no caos”, diz McClung. Para aumentar suas chances de sobrevivência, o webdesigner desenvolveu uma estrutura autossuficiente no fundo do quintal, que inclui a criação de tilápias, galinhas e cabras e o cultivo de vegetais e folhas. Caso tenha que fugir de casa, comprou máscaras e roupas à prova de substâncias tóxicas e radioativas. O americano Peter Larson também construiu um bunker a uma hora de sua casa, em Salt Lake City, no Utah, para os 12 membros da sua família. A porta suporta até 36 toneladas de pressão e há comida para dois anos. O medo de Larson é que o mundo acabe num ataque nuclear. “As chances de um holocausto estão maiores com o ingresso do Irã e da Coreia do Norte no clube de países nucleares”, diz.


Além da procura por comidas enlatadas, lanternas, máscaras e água para estocagem, outros segmentos da economia se beneficiam do fenômeno apocalíptico de 2012. Desde que um tsunami invadiu a costa do Japão, em março de 2011, causando um desastre nuclear, o número de pessoas interessadas em comprar bunkers nos Estados Unidos aumentou em até 1.000%. Apenas uma empresa, a Terravivos, afirma ter recebido centenas de pedidos de reserva, efetivados mediante um depósito mínimo de US$ 5 mil. “As pessoas estão com medo de eventos catastróficos e preveem um colapso da economia mundial que levaria à anarquia e que poderia significar o fim de 90% da população mundial”, diz Robert Vicino, CEO da Terravivos. No Brasil, a empresa brasileira Bunker Brasil confirma ter vendido três bunkers para clientes brasileiros que temem catástrofes em 2012. Os modelos, com proteção contra armas químicas e biológicas, filtragem de ar e armazenamento de alimentos, variam de preço e tamanho, mas custam entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão, na versão com capacidade para abrigar até dez pessoas.


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Se as novas tecnologias que possibilitam maior proteção contra as possíveis tragédias propagadas para 2012 são modernas, o fim do mundo não tem nada de novo. Há milênios, profetas das mais diferentes crenças e religiões vêm a público para defender datas que marcariam o apocalipse. Felizmente (e obviamente) todos falharam até aqui. O americano Harold Camping, um dos arautos do fim dos tempos mais fracassados do mundo, já previu e errou o dia do juízo final três vezes. Isso não o impediu, porém, de conquistar seguidores até no Brasil. No bairro de Nova Gameleira, em Belo Horizonte, fica a sede nacional da Family Radio, organização criada por Camping. Em maio de 2011, o líder brasileiro do grupo, Harold Gulli – que mora nos Estados Unidos – veio ao País para divulgar o fim do mundo entre os brasileiros. Com um pequeno bando de seguidores, distribuiu panfletos em São Paulo, São Bernardo do Campo e São José dos Campos, pedindo às pessoas que se arrependessem de seus pecados. Mas o fim dos dias, marcado por Camping para 21 de maio, não aconteceu.

A data do fim do mundo da vez, 21 de dezembro de 2012, se tornou popular após interpretações de escritos maias encontrados no templo de Palenque, no sul do México. Ali está registrado que um dos calendários maias, a roda calendária, terminaria neste dia. O marco teria sido calculado através da observação astronômica e da análise de outros dois calendários maias, o Zolkin, que pautava a vida religiosa, e o Haab, ligado às guerras e à vida civil. “Mas os maias não deixaram nenhum registro de que o mundo acabaria”, diz Alexandre Navarro, doutor em arqueologia pela Unam (Universidad Nacional Autónoma de México) e professor de história da América da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). “O fim da roda calendária representa apenas o término de um ciclo”, diz.


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BUNKER

Dennis McClung, de Phoenix (EUA), estoca água,

mantimentos e utensílios à espera do apocalipse


Mas, para alguns fiéis do fim dos tempos, outros sinais indicariam que o reino dos homens sobre a Terra estaria prestes a acabar. Misturando arqueologia e ciência, profecias correm a internet afirmando que em 21 de dezembro de 2012 um raro alinhamento do Sol com os planetas do sistema solar poderia interferir na gravidade da Terra, causando maremotos, terremotos e muitas mortes. “Esse alinhamento, de fato, acontecerá, mas não significará absolutamente nada”, diz o astrônomo Carlos Henrique Veiga, coordenador da Divisão de Assuntos Educacionais do Observatório Nacional. Segundo o especialista, o fenômeno já ocorreu milhares de vezes desde que nosso planeta existe e nunca gerou consequências perceptíveis. “Cataclismas, tsunamis e terremotos não são ocasionados pela atração gravitacional dos planetas”, reforça.


Mesmo que o mundo não acabe em 2012, ainda assim muitas pessoas não descartam a hipótese do fim numa data futura. Para o empresário paulista Jairo Pontes, várias catástrofes naturais devem ocorrer em 2012, mas não serão suficientes para dar cabo à vida no planeta. “O juízo final está marcado entre 2028 e 2036”, diz. Nesse período, de acordo com o seguidor da Igreja Cristã Apostólica Profética de Alphaville, um meteoro deverá atingir a Terra e três quartos da população mundial perecerá instantaneamente. “Só quem acreditar em Jesus e for batizado será salvo”, afirma Pontes. Saindo da seara religiosa, a fotógrafa Lívia Buchele, 32 anos, também acredita no apocalipse, mas sob o viés ambiental. “O fim do mundo já começou”, diz Lívia. “Se não mudarmos nosso estilo de vida, o planeta chegará ao seu limite e será o nosso fim.”


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Seja por motivos religiosos, seja por motivos científicos ou ecológicos, o apocalipse sempre despertará o interesse e a curiosidade do homem, independentemente das crenças de cada um. “Pensar no fim do mundo nos desperta um sentimento de ambiguidade”, explica Teresa Creusa Negreiros, doutora em psicologia clínica e professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). “Ao mesmo tempo que tememos um fim coletivo, também o desejamos, pois assim não deixaríamos a vida sozinhos.” Se o dia 21 de dezembro de 2012 terminar como todos os outros, isso não significará, contudo, o fim das profecias sobre o fim do mundo. Será só mais uma possibilidade de lembrar a célebre frase de Santo Agostinho, no livro “A Cidade de Deus”: qualquer previsão que fale em uma data não passa de uma fábula ridícula.


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PARANOIA

Peter Larson, de Salt Lake City (EUA), em seu bunker

para 12 pessoas: seis metros de profundidade


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