Falar de catolicismo no Brasil
é falar de pelo menos duas importantes categorias: os católicos praticantes e
os católicos não praticantes. Segundo levantamento da PNAD, corroborado pelo
Censo, e pela vivência que experimentamos no cotidiano, a maioria dos católicos
não vivencia sua fé com muita regularidade. Pelo menos nos grandes centros, a
assiduidade se limita a eventos marcantes, ritos de passagem, como o são o
batismo, a primeira comunhão, a crisma e o casamento.
Em
termos de mundo protestante/evangélico, no entanto, para além dos ritos de
passagem que sempre lotam as igrejas, uma categoria de análise a mais se nos
apresenta: temos os evangélicos diretamente ligados a uma igreja (praticantes),
temos os afastados (não praticantes), desiludidos por conta de alguma decepção
eclesiástica, quase sempre ligada a problemas de relacionamento, e temos os que
agora parecem estar bem mais “na moda”; os desigrejados (praticantes,
mas sem líderes e sem um ambiente formal de prática).
Os
desigrejados não são pessoas que se afastaram da fé. Não são pessoas que
decidiram “chutar o balde”, caindo na gandaia do mundão, e fazendo tudo o que a
igreja chama de pecado ou desvio da fé e conduta cristãs. Não, os desigrejados
não são pessoas que estão abandonando os ensinos de Jesus Cristo, bem como não
são pessoas decepcionadas com Deus ou com a Bíblia. Os desigrejados são
simplesmente ovelhas que não têm pastor; é gente séria, procurando igreja
séria, mas sem qualquer sucesso nesta empreitada.
Tais
desigrejados surgem no início do século XXI, como resposta à polarização que se
efetivou com muita força no mundo evangélico brasileiro da última década.
Cansados de um neopentecostalismo avassalador – e de sua teologia da
prosperidade – de um lado, e de um moralismo castrador, de igrejas demasiado
conservadoras, de outro, os desigrejados formaram o grupo mais interessante do
movimento evangélico contemporâneo, haja vista ter fomentado – e estar
fomentando – uma série de reflexões acerca da caminhada da igreja evangélica
brasileira.
Justamente
por conta de uma séria reflexão sobre o seu lugar na igreja e no mundo, este
grupo tem chamado bastante a atenção, uma vez que, ávidos por uma mensagem
bíblica profunda e sincera (daquelas que não partem da premissa de que os
ouvintes são idiotas alienados), aliada a uma relevância social num mundo
deveras desigual e corrompido, os sem igreja se nos apresentam como um
importante grupo a se conquistar.
Os
desigrejados não estão em busca de prosperidade material e nem de milagres sem
limites e a qualquer custo. Em geral, é gente com boa condição financeira e de
saúde. Além disso, por conta da formação que conseguiram ter e pela reflexão
que desenvolvem, essas pessoas pedem bem pouco de uma igreja e de um pastor. Assim,
nem é tão difícil responder às suas demandas, pois rapidamente se pode enxergar
a essência do cristianismo naquilo que tal grupo pleiteia, já que nossos irmãos
pedem apenas um pastor que tenha ouvidos realmente interessados em ouvir e
ombros realmente interessados em suportar o peso de uma ovelha, como quer o
Evangelho.
Talvez
já estejam em curso as estratégias para reintegrar tal grupo a uma comunidade
de fé. No entanto, dogmatismos e intolerâncias sem limites não ajudarão em
nada, pois a maioria dos pastores não tem a formação e as informações de que
dispõem os desigrejados. Do mesmo modo, promessas mirabolantes não estão na
ordem do dia, já que, para um desigrejado, papo de Malafaia, Valdemiro, Macedo,
Miguel Ângelo, dentre outros, já se tornou, no mínimo, mensagem de procedência
maligna.
liberdade,
beleza e Graça...
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